FOTOS: TARSO SARRAF

TEXTO: ADISON FERRERA

 

Na Vila do Bonifácio, um pequeno povoado formado por pescadores e comerciantes, localizado a 34 quilômetros do município de Bragança, no nordeste paraense, o mar é quem dita o ritmo da vida. Traz o alimento. Aproxima pessoas. Muda a paisagem. “O primeiro povoado da Vila do Bonifácio foi totalmente engolido pelo mar. Dava pena de ver, várias famílias tiveram que abandonar tudo e começar a construir do zero uma nova comunidade, muito mais distante do primeiro povoado”, explica o pescador Francisco Almeida, 74 anos.

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Morador da vila há 55 anos, seu Chico, como é conhecido no local, afirma que o mar é a extensão de sua casa. E não consegue ficar um dia sequer longe do vai e vem das ondas. “Eu nasci na pesca e vou morrer na pesca. A minha família já falou várias vezes para eu parar de navegar, abandonar a pescaria, mas não consigo. Além de fornecer o meu sustento, o mar me cura de todos os males. E enquanto eu tiver vida, eu vou continuar navegando”, ressalta o velho pescador, que também foi obrigado a mudar de casa devido à erosão causada pelo mar.

Quando a maré começa a baixar é possível ver a ponta de algumas casas de madeiras que ficaram submersas devido à fúria do mar. Uma fúria que nunca descansa, segundo os moradores. “Quem nasceu e cresceu na vila de pescadores, sabe que ninguém pode enfrentar a força da maré. É ela que vai moldando a cada tempo a paisagem da praia. Sabemos que daqui a alguns anos, com o avanço do mar, essa vila terá que mudar novamente de lugar. Mas, isso faz parte do ciclo da natureza. Em meio a isso, só podemos agradecer. Afinal, aqui nós somos muito abençoados pelo mar”, afirma a dona de casa Marilene de Oliveira.

A benção que Marilene se refere é devido à abundância de peixes no local. De acordo com os moradores, por dia, são retirados do mar cerca de 600 quilos de sardinha. Isso fora outros tipos de peixe como corvina, gó e pescada amarela. “A diferença da sardinha é que não existe tempo para ela. E aqui na vila, esse peixe parece que brota da água. De janeiro a janeiro, todo o final de tarde aqui é assim, os barcos saem do mar com as redes carregadas de sardinha”, ressalta a dona de casa, enquanto ajuda o marido a descarregar o pescado.