Transitar sobre as águas a bordo de uma canoa sempre foi uma das principais paixões do aposentado Maximiliano Pimentel, 72 anos. Morador da ilha do Combú, comunidade ribeirinha distante 1,5 km de Belém, ele lembra com detalhes, ainda hoje, a primeira vez que remou sozinho nas águas barrentas do Rio Guamá. “Eu devia ter uns cincos anos. O meu pai me chamou em cima do trapiche da nossa casa, entregou um remo na minha mão, me mostrou a canoa que tinha comprado para mim e disse. Esse rio é todo teu”, relembra.

Durante uns 20 anos de sua vida, atravessar de canoa da ilha onde mora até Belém foi um exercício diário. Acordava ás 4h, todos os dias, para colocar os paneiros de açaí dentro da embarcação e seguir remando até o outro lado da margem. Apesar do cansaço, seu Max, como é conhecido na comunidade, afirma que sentia prazer com a atividade. “A emoção que eu sentia quando estava sozinho, dentro da canoa, no meio do rio, é algo que eu nem sei descrever. Para mim, não era apenas uma labuta. Era uma forma de me sentir um homem livre, por completo”, afirma.

Mesmo com a chegada das embarcações motorizadas, que atualmente dominam os rios da região, a velha canoa e o velho remo não foram abandonados por ele. O aposentado ainda guarda em casa uma embarcação rústica de quando era jovem. “Eu sou apaixonado pela canoagem. Se eu tivesse mais oportunidade da vida, certamente teria sido um profissional de canoagem esportiva. Aí ninguém me segurava”, ressalta seu Max, que atualmente estar afastado dos remos por uma determinação médica.

 

Sete filhos. Oito netos. A voz cansada pelo tempo e a falta de firmeza nos braços já não são mais as mesmas do jovem canoeiro. Mas a vontade em continuar remando continua perene. Firme. Por essa razão, decidiu se tornar o professor de canoagem oficial das dezenas de crianças de comunidade que tem o rio como extensão de casa. “A cada novo menino que aprende a remar comigo, a sensação que eu tenho é de dever cumprido”, declara o aposentado.

 

Com sete anos de idade, o pequeno Adrian comemora o fato de ter sido avaliado com nota máxima pelo avô, com apenas dois dias de aula. “Tem menino aqui que demora às vezes uma semana ou até mais para pegar as manhas da canoa. Eu não precisei de muito tempo não. Na segunda aula, o vô Max já disse que eu estava pronto para remar sozinho. E agora já sou profissional”, garante o rapazinho, que rema desde os seis anos.

E a fila de novos canoeiros não para de andar. Até o final do ano, pelo menos dez garotos da comunidade já têm aulas marcadas aos domingos com o aposentado. “A primeira lição do curso sempre é tenha amor pelo rio. Que o rio vai proteger a tua canoa. O resto é apenas uma questão de instinto. A minha função é apenas dar as coordenadas”, ensina o mestre.