Em entrevista ao Carta Amazônia, Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM, fala sobre os desafios da redução do desmatamento na região amazônica
Por Cecilia Amorim
O Dia da Amazônia, 05/09, foi criado com o intuito de chamar a atenção para as pautas urgentes da maior floresta tropical do planeta. Entre elas, a proteção dos povos tradicionais, a conservação do bioma e a mitigação dos impactos ambientais relacionados ao aquecimento global. São muitos os desafios que o bioma enfrenta: desmatamento, garimpo, queimadas, avanço da agropecuária e lavoura, entre tantos outros na luta para se manter de pé.
Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, mostram que desmatamento na Amazônia fechou o primeiro semestre de 2023 com uma queda de 60% em comparação com o mesmo período do ano passado. Nos primeiros seis meses de 2022 foram desmatados 4.789 km². Em 2023 os números do mesmo período fecharam em 1.903 km². Apesar da redução, os números ainda são altos. Somente este ano foi desmatada na Amazônia uma área maior do que a cidade de São Paulo.
Segundo Ane Alencar, ativista ambiental e diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM, esses números mostram todo o esforço que o governo federal tem feito para criar condições de governança na Amazônia. “Muitas operações conjuntas da Polícia Federal e do Ibama, muitas apreensões, muitos embargos, muitas multas aplicadas. E tem um posicionamento muito claro do governo federal, inclusive do presidente da república que quer reduzir o desmatamento. Operações fortes como a feita na TI Yanomami, retirada dos garimpeiros, queimas de balsas. Isso tudo passa um sinal pra sociedade que se você vai fazer um desmatamento e não tem a licença você pode ser punido e responsabilizado. E isso, como você vê, tem resultado prático e mensurável nas imagens por satélite. A redução do desmatamento está muito associada ao retorno do Governo Federal a uma agenda ambiental com responsabilidade”, afirma Alencar.
Entre os estados da Amazônia Legal Rondônia se destaca como o único que foi na contramão da redução. O estado teve um aumento de 51% na taxa de desmatamento, dando um salto de 74 km² registrados no ano passado para 112 km² desmatados no primeiro semestre deste ano. Mesmo com um número alto de redução, Mato Grosso, Amazonas e Pará continuam nas primeiras posições nos estados que mais derrubaram árvores.
Queimadas
No ano de 2022 foram registradas mais de 100 mil focos de queimadas na Amazônia. O mês de setembro do ano passado bateu alguns recordes em relação ao fogo. De acordo com o Instituto ClimaInfo, foram cerca de 39 mil focos de incêndio nos primeiros dias do mês. Esse ano os números de queimadas apresentaram índices altos nos primeiros quatro meses de 2023 para logo depois apresentarem queda.
As queimadas estão diretamente relacionadas com o desmatamento, e esses números elevados são reflexos dos desmatamentos feitos no ano anterior, é o que afirma a diretora do IPAM. “Não tivemos essa redução em maio e junho porque grande parte da área que estava sendo queimadas ali foram desmatadas no ano anterior, então era desmatamento antigo. Nesse momento, a gente teve um aumento nos focos de queimada enquanto o desmatamento estava reduzindo. Agora já estamos vendo o efeito da redução do desmatamento quando a gente olha para os números de queimadas que também reduziram. Há uma relação muito forte entre o desmatamento e as queimadas, porque toda área desmatada um dia vai ser queimada. Essa é a intenção de quem desmata”, afirma a ativista.
Liderança em emissões de CO2
O gás carbônico (CO2) é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa e consequentemente o aumento da temperatura no mundo. Controlar a emissão de CO2 é uma das metas dos países que debatem as mudanças climáticas. Segundo estudo da Nasa, publicado este ano na revista científica Earth System Science Data, o Brasil ocupa o sexto lugar entre os países que mais liberam gás na atmosfera. A região Norte é responsável por 60% dessas emissões, afirma um levantamento do MapBiomas que faz parte da rede do Observatório do Clima.
Entre os dez municípios brasileiros que mais liberam CO2, oito fazem parte da Amazônia Legal ao lado das metrópoles São Paulo e Rio de Janeiro. Esses oito municípios amazônicos juntos liberaram 156,3 milhões de toneladas de gás carbônico:
1. Altamira/ PA – 35,2
2. São Félix do Xingu/ PA – 28, 9
3. Porto Velho / RO– 23,3
4. Lábrea/ AM – 23,2
5. São Paulo/ SP – 16,6
6. Pacajá /PA – 16,2
7. Novo Progresso / PA– 14,9
8. Rio de Janeiro / RJ – 13,8
9. Colniza / MT– 13,5
10. Apuí/ AM – 12,5
Os oito municípios amazônicos liberam mais gás carbônico que vários países juntos. A Grécia, Portugal, Suiça, Paraguai, Islandia e Uruguai juntos liberaram 140,43 milhões de toneladas em 2020 segundo a Carbon Dioxide Information Analysis Center.
Esses números são reflexos do avanço do desmatamento e das queimadas na região. A floresta, tanto nas árvores quanto no solo estocam CO2, quando se derruba uma árvore ou queima uma área esse gás é liberado na atmosfera. Conter o desmatamento e a queimada na Amazônia é lutar também para mitigar os efeitos do aquecimento global.