Helder tenta usar a COP para passar a boiada nos direitos da classe trabalhadora
Nós da Agência Carta Amazônia nos solidarizamos a profissionais da educação e ativistas de movimentos sociais, sindicais e de direitos humanos, agredidos covardemente pela Polícia Militar do governador Helder Barbalho. A violência aconteceu na manhã de quarta, dia 18 de dezembro, durante manifestação contra o PL 729, que, segundo o Sintepp, destrói uma conquista histórica, o estatuto do magistério paraense.
O protesto também reunia jornalistas e ativistas culturais, que denunciavam a Reforma Administrativa, também enviada por Hélder para ser aprovada sem qualquer debate com a sociedade civil, mas que, por uma questão meramente técnica, fora retirada de pauta. Porém, segundo o presidente reeleito da ALEPA, deputado Chicão (MDB), ela deve voltar a tramitar em fevereiro de 2025, ano da COP30.
Nós da Carta Amazônia nos reivindicamos como oriunda da Greve do Diário e do DOL em 2013, que ousou afrontar a família Barbalho, uma oligarquia que representa o latifúndio, os barões da mídia e as dinastias familiares na política, herdando práticas coronelistas e clientelistas para se perpetuar no poder.
O governador Hélder Barbalho, durante a pandemia, ganhou apelido de “Rei do Norte”, de forma elogiosa, sobretudo por adotar políticas sanitárias à revelia do que recomendava o Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, grande expoente do negacionismo climático e sanitário. Ao longo do tempo, porém, o apelido “Rei do Norte” vem ganhando uma grotesca e assustadora vida, a cada adversário político derrotado em manobras escusas, a cada golpe aplicado contra movimentos sociais e sindicais.
Por exemplo, a Reforma Administrativa proposta pelo governador deve fundir a Fundação de Telecomunicações e Radiodifusão do Pará (Funtelpa) com a Secretaria de Comunicação do Estado, o que, além colocar em risco a comunicação pública já precária e sucateada, pode subvertê-la de vez a uma comunicação estatal. Isso ocorre após quatro anos de negociação entre servidores, Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor) e governo para a construção do PCCR da categoria, uma das únicas do estado a não ter progressão. Enquanto uma parte do governo e dos deputados sentavam com os trabalhadores e serviam cafezinho nas negociações, o PL da Reforma Administrativa estava sendo orquestrado. Este que, se aprovado, na prática, enterra todo o debate, não só sobre o PCCR, como também o acordo coletivo com a volta do quinquênio, conquistado em 2023 após greve e anos de luta.
A oligarquia Barbalho está no governo do estado, no governo federal (Ministério das Cidades), detém influência na maioria das Câmaras Municipais, controla a ALEPA, está na Prefeitura de Belém e tem a reverência da ampla maioria das prefeituras do Pará. E como esse poder se consolida? Entre outros motivos, pela ausência do estado ou por políticas assistencialistas do próprio. Quando a educação pública é sucateada, os empresários da educação lucram e, ao mesmo tempo, é aberta a possibilidade para que políticos ofertem cursinhos populares. Quando o SUS e o SUAS são sucateados, qualquer política assistencialista, como cirurgias eletivas, BPC, cestas básicas podem ser capitalizados por vereadores, deputados, senadores em troca de votos. Isso inclui a própria Usina da Paz, uma política de governo e não de estado. Todas essas medidas sustentam a compra de votos velados, aos moldes do que ocorre com o Bolsa Família. Não à toa Igor Normando coordenou as Usinas. O tempo todo era um projeto eleitoreiro, que deu certo, e ele será prefeito da Sede da COP 30.
Portanto, não é por acaso que é tão caro para o governo atacar as políticas públicas, mesmo que a imagem fique desgastada com agressões policiais. A vulnerabilidade social e política dos povos da Amazônia Paraense enriquecem políticos e empresários, e garantem a compra de votos, veladas ou não, que sustentam os poderes hoje quase imperiais dos Barbalho. O governo aposta, portanto, no capital político que espera ganhar com a COP, que a forte incidência nas redes sociais e o domínio das prefeituras mantenham a dinastia no poder, mesmo com medidas antipopulares.
Nós da Agência Carta Amazônia, coletivo de jornalistas independentes, pretos e periféricos, denunciamos essa dinastia e nos colocamos ao lado dos movimentos sociais, sindicais e dos povos tradicionais e periféricos da Amazônia Paraense. Ao mesmo tempo que tal posicionamento possa nos retirar recursos publicitários, contratos e acessos a recursos que deveriam ser públicos e não de padrinhos políticos, nós temos muito orgulho de estarmos ao lado de quem ousa lutar. Denunciar medidas antidemocráticas e protofascistas da família Barbalho e toda política provinciana que ainda impera na Amazônia Legal é potencializar as vozes desses povos e entrar na guerra em curso, em defesa dos seres humanos e não humanos da Amazônia e de todos os biomas da Mãe Terra.