Conheça a história do paraense Júlio César Ribeiro de Souza, inventor do balão dirigível.

Por Cecília Amorim

Hoje, 22 de outubro, é o Dia da Aviação e, se você mora em Belém ou já visitou a cidade, já deve ter cruzado a Avenida Júlio César, caminho quase inevitável para quem vai ao aeroporto. Mas você sabe quem foi o Júlio César Ribeiro de Souza que dá nome a essa avenida e também ao Aeroporto Internacional de Val-de-Cans?

Júlio César nasceu em 13 de junho de 1843, na Vila de São João do Acará (hoje município de Concórdia do Pará). Desde jovem, mostrou curiosidade e talento para os estudos, o que o levou a se mudar para Belém e, mais tarde, para o Rio de Janeiro de onde partiu para servir como oficial na Guerra do Paraguai.

Foi durante a guerra que ele viu pela primeira vez um balão subindo ao céu — uma visão que o marcou profundamente. Ao voltar para o Brasil, regressou a Belém onde passou a estudar o voo dos pássaros e a se dedicar, de forma autodidata, à busca por uma forma de dirigir balões, que até então apenas flutuavam conforme o vento.

Em 1880, publicou no jornal A Província do Pará um artigo em que detalhava suas ideias sobre o que chamou de “balão dirigível”: um aeróstato fusiforme, com proa e popa assimétricas, asas móveis e lemes, capaz de voar mesmo contra o vento — um conceito à frente de seu tempo.

A repercussão de suas ideias o levou a Paris, em 1881, onde conseguiu construir o primeiro modelo experimental: o Le Victoria, batizado em homenagem à sua esposa. O balão, com cerca de dez metros de comprimento, foi testado diante da imprensa francesa e chegou a realizar dois voos bem-sucedidos, algo extraordinário para a época.

Animado, Júlio César decidiu ousar mais. Planejou um balão muito maior, o Santa Maria de Belém, com 52 metros de comprimento, projetado para levar um tripulante. Era 1884, e se o voo desse certo, o paraense seria o primeiro homem da história a sobrevoar o céu em uma máquina dirigida.

Mas o destino foi cruel. No dia da exibição pública, o balão falhou. O sistema de hidrogênio não funcionou, a estrutura não respondeu e a demonstração terminou em frustração. Poucos meses depois, os engenheiros franceses Charles Renard e Arthur Krebs apresentaram um dirigível que usava princípios muito parecidos com os de Júlio César — e conseguiram o reconhecimento mundial.

Júlio acusou plágio, mas sem apoio, sem recursos e longe de casa, não conseguiu provar. O fracasso e a injustiça o abateram. De volta ao Brasil, publicou um livro em francês, “Fiat Lux”, no qual registrou seus estudos e as agruras de sua jornada. Morreu três anos depois, em 1887, aos 44 anos, vítima de beribéri, em Belém.

Avenida Júlio César é um caminho quase inevitável para quem vai ao Aeroporto Internacional de Val-de-Cans, Belém, que também se chama Júlio César em homenagem ao aviador pioneiro da Amazônia (Foto: Divulgação/ Agência Belém)

Hoje, mais de um século depois, seu nome resiste em placas da cidade. A Avenida Júlio César e o Aeroporto Internacional de Belém Júlio César Ribeiro de Souza são homenagens a um paraense visionário que ousou sonhar com o até então impossível — voar.

Quando você passar por aquela avenida a caminho do aeroporto, lembre-se disso: antes de Santos Dumont, antes da aviação como a conhecemos, um homem da Amazônia já tinha imaginado o futuro e, mesmo sem ter chegado ao céu, ajudou a torná-lo possível.

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Foto de capa: Reprodução/ A Província do Pará

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