Encontro Amazônico de Facilitadores da Bioeconomia, realizado durante a COP30, em Belém, debateu o papel da sociobiodiversidade e da bioeconomia na conservação das florestas e no enfrentamento às mudanças do clima


Da Redação

Durante a Conferência Mundial do Clima, em Belém, as discussões sobre a agenda climática foram além dos espaços oficiais da COP30. Um exemplo disso foi o Encontro Amazônico de Facilitadores da Bioeconomia, realizado nos dias 18 e 19 de novembro, na sede do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), no bairro Curió-Utinga.

A atividade, promovida pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Ideflor-Bio e Instituto Floresta Tropical “Johan Zweede” (IFT), reuniu cerca de 200 pessoas. No encontro, lideranças comunitárias, pesquisadores, estudantes e organizações do terceiro setor debateram o papel da sociobiodiversidade e da bioeconomia no fortalecimento das comunidades extrativistas, na conservação das florestas e no enfrentamento às mudanças do clima.

Para a professora Gracialda Ferreira, diretora do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFRA, o evento foi uma oportunidade para debater as experiências, desafios e soluções da agenda da sociobioeconomia a partir do protagonismo de lideranças comunitárias da Amazônia.

“Os debates sobre o papel da bioeconomia e da sociobiodiversidade não podem ficar restritos à academia e aos espaços formais das organizações do terceiro setor. É fundamental que as lideranças comunitárias que estão na base dessas cadeias participem ativamente dessa agenda”, afirma. 

Evento reuniu pesquisadores, estudantes, organizações ambientais e lideranças comunitárias para debater o papel da sociobioeconomia
na agenda climática (Foto: Karina Paes/IFT)

No encontro também foi construído um documento coletivo chamado ‘Carta dos povos e comunidades promotores/guardiões da sociobiodiversidade’, direcionado a tomadores de decisão, agências de cooperação técnica e fomento. A proposta tem o objetivo de apresentar os pontos fundamentais para o avanço da agenda da bioeconomia, essencial tanto para o enfrentamento da crise climática quanto para a promoção do bem-viver das populações envolvidas.

Segundo a engenheira florestal Paula Vanessa Silva, gerente de Sociobiodiversidade e Bioeconomia do IFT, o encontro conseguiu discutir a pauta da sociobioeconomia de maneira inclusiva ao colocar diferentes lideranças comunitárias no centro desse debate.

“É impossível falar em desenvolvimento da sociobioeconomia sem escutar as populações que vivem na floresta; e esse encontro se propôs a isso. Conseguimos discutir formas inclusivas de trazer as populações que manejam e vivem da sociobiodiversidade para colocar seus desafios e entender a complexidade dessa economia da floresta. Afinal, temos diferentes Amazônias, diferentes realidades dentro da mesma Pan-Amazônia. A mesma coisa vale sobre os debates sobre a agenda climática, as populações das florestas precisam estar no centro dessas discussões, em especial mulheres e jovens,” afirma Vanessa.

Bioeconomia como manutenção da floresta em pé

Além de apresentar soluções para a agenda climática, o encontro também debateu temas como assistência técnica, ordenamento territorial e gestão dos territórios, dispositivos financeiros e a inserção socioeconômica de jovens e mulheres na sociobioeconomia.

Liderança comunitária da Reserva Extrativista Arióca Pruanã, no município de Oeiras do Pará, no Marajó, Merilene Pantoja destacou a troca de saberes proporcionada pelo encontro.

Merilene Pantoja, moradora da Resex Arióca Pruanã, no Pará, destacou a importância do protagonismo dos povos da floresta
nos debates sobre sociobioeconomia (Foto: Karina Paes/IFT)

 “Reunir pessoas de diferentes setores num mesmo encontro é fundamental para mostrar à sociedade a importância da bioeconomia e o impacto dela nos mais diversos setores. Além disso, também é uma oportunidade para reforçar o protagonismo dos povos floresta nessa pauta e dizer que o ‘sócio’ da sociobioeconomia não é uma palavra à toa. É uma palavra para afirmar a importância das pessoas que vivem na floresta e dizer que não existe preservação da floresta sem dignidade para as pessoas que vivem nela”, ressalta Merilene.

Para Cíntia Soares, gerente de Contratos Florestais do Ideflor-Bio, o encontro foi uma oportunidade para fomentar ainda mais a inserção da pauta da bioeconomia como estratégia de política pública. “O Pará tem 25 milhões de hectares na gestão do Ideflor-Bio. Esses números mostram que temos um potencial florestal imenso na área da bioeconomia. Por isso, essa pauta precisa ser debatida como estratégia de política pública, com ações muito bem definidas para a conservação das nossas florestas. A manutenção da floresta em pé passa por esse debate. E esses espaços reforçam a importância disso, a importância de entender a bioeconomia como o futuro da Amazônia”.

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Foto de capa: Karina Paes/IFT

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