A afirmação reforça uma posição já expressa pelo governo federal, que tem defendido a exploração de petróleo na Margem Equatorial como “ponte de transição” para uma economia de baixo carbono.

Por Rudja Santos

Durante a abertura da COP30, realizada nesta segunda-feira (10) em Belém, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), defendeu que a exploração de petróleo na Margem Equatorial pode coexistir com as metas de transição energética e de redução de emissões assumidas pelo Brasil. A declaração ocorre em meio a um debate intenso sobre o papel dos combustíveis fósseis na economia amazônica e sobre as contradições do país ao sediar a conferência climática mais importante do mundo enquanto avança em projetos de exploração offshore na foz do rio Amazonas.

Helder afirmou que a produção de petróleo pode contribuir para o fortalecimento da segurança energética nacional, desde que os recursos gerados sejam usados para impulsionar a transição para fontes renováveis.“O que nós devemos é fazer com que a riqueza advinda desta operação na Margem Equatorial possa garantir primeiro segurança energética para o nosso país, dentro do prazo planejado, para que possamos fazer a transição definitiva e o Brasil possa ter a capacidade de não mais necessitar de combustíveis fósseis”, declarou o governador.

Segundo ele, a ambição de alcançar o uso zero de combustíveis fósseis “pode sim acontecer nas próximas décadas”, desde que o processo seja planejado de forma gradual e responsável. A fala reforça uma posição já expressa pelo governo federal, que tem defendido a exploração de petróleo na Margem Equatorial como “ponte de transição” para uma economia de baixo carbono.

A declaração, contudo, expõe uma das maiores contradições da COP30: sediada no coração da Amazônia, a conferência discute os caminhos globais para conter o colapso climático enquanto o Brasil, país anfitrião, mantém planos de expansão da exploração petrolífera em uma das regiões mais sensíveis do planeta. Especialistas alertam que a abertura de novos poços na Margem Equatorial pode ameaçar ecossistemas marinhos ainda pouco estudados e afetar comunidades pesqueiras do Amapá e do Pará.

Durante o evento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou esse alerta ao afirmar que “os combustíveis fósseis estão ficando sem espaço” e que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C “é uma questão de sobrevivência, não de política”. Segundo Guterres, mais de 90% da nova capacidade de geração elétrica instalada no mundo em 2024 veio de fontes renováveis, sinalizando uma mudança estrutural no setor energético.

Apesar das críticas, Helder buscou enfatizar que a COP30 representa uma oportunidade histórica para a Amazônia e que o Pará “tem o dever de liderar o debate sobre desenvolvimento sustentável, florestas e justiça climática”. Ele destacou os programas estaduais voltados à bioeconomia e à implementação do sistema jurisdicional de créditos de carbono (REDD+), financiado por países como a Noruega, como exemplos de que é possível conciliar desenvolvimento e conservação.

A abertura da COP30 reune chefes de Estado, governadores, cientistas e representantes da sociedade civil sob o lema “Década da Entrega” — referência ao período decisivo em que as promessas do Acordo de Paris precisam se converter em ações concretas. Durante os próximos dias, as negociações devem focar em temas como financiamento climático, transição energética justa, preservação das florestas tropicais e adaptação aos eventos extremos.

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Foto de capa: Marco Santos / Ag. Pará

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