Organizada pela jornalista Juliana Carvalho, a obra “Avoado Pirabense” aborda diversos aspectos do município localizado na região Salgado Paraense. Entre eles, o Festival Afroreligioso do Rei Sabá, em destaque na foto acima

Lançado na última semana de dezembro, O ebook Avoado Pirabense reúne uma série de narrativas acerca da realidade sociocultural de São João de Pirabas, município da região do Salgado Paraense, nordeste do estado. A obra, organizada pela jornalista Juliana Carvalho, resulta de pesquisas acadêmicas e experiências de campo realizadas em colaboração com as autoras Karina Dias, Ana Paula Barros e Solange Maia. O livro pode ser acessado neste link ou através do QR Code abaixo.

Ebook foi aprovado no Edital de Livro e Leitura da Lei Paulo Gustavo (Foto: Divulgação/ Avoado Pirabense)

A versão impressa será lançada em janeiro deste ano e distribuída em todas as escolas e na biblioteca pública do município.  A previsão é que a entrega ocorra durante a calendário cultural no dia 20 de janeiro, com o Festival Afroreligioso do Rei Sabá, o maior da Região dos Caetés. Isso porque muitas das histórias trazidas na publicação perpassam pelo mundo da Encantaria na Amazônia, visível nas manifestações da Umbanda, Tambor de Mina e Pena-Maracá.

A publicação discorre sobre as mudanças paisagísticas vivenciadas nos 35 anos de emancipação política de São João de Pirabas. Mostra, com isso, como paisagem e memória se entrelaçam, permanecendo presentes na mente das pessoas. Os afetos também aparecem nas temáticas relacionadas ao mar, principalmente pelo fato de as atividades pesqueiras serem a principal fonte de renda local. Logo, desde os nomes das embarcações até os ritos de embarque, fé e lendas se misturam para garantir o retorno do pescador para casa.

Com um rico acervo histórico e cultural, São João de Pirabas também é destaque na produção de pescado e mel (Foto: Marco Santos/ Ag. Pará )

Com rica extensão de mangues, tendo preservadas diversas espécies de plantas e animais, Pirabas consegue ser destaque na produção de mel e outros derivados da apicultura, produtos que estão ganhando cada vez mais visibilidade nacional e internacional. O néctar do mangue é puro, livre de agrotóxicos e outras substâncias nocivas. O livro chama atenção, no entanto, para a necessidade de um olhar mais atento para essa questão, tendo em vista que o desmatamento e outras intervenções têm reduzido e prejudicado a produção, fazendo com que as abelhas tenham que buscar o néctar cada vez mais longe.

Outro aspecto abordado é a invisibilidade dos moradores da Vila do Axindeua, que se autodeclaram quilombolas, mas não são reconhecidos como tal. As entrevistas realizadas mostram como, aos poucos, os traços dessa ancestralidade vão sendo apagados e esquecidos. Assim, com a morte dos mais velhos, as tradições se perdem, junto com segredos da curanderia e o histórico deluta pela conquista das terras. As próximas gerações ficam fadadas a se deslocar em busca de emprego, reconhecimento e melhoria de vida.

“Cheguei em Pirabas em 2019 e conheci um universo totalmente novo. Essa mistura da Amazônia com o Oceano Atlântico resulta em narrativas únicas, em que os mistérios da magia e da encantaria estão sempre presentes. São diversos relatos que culminam em um só fato: a necessidade urgente de se valorizar esse saber tradicional, de se retomar histórias e conhecimentos que estão se perdendo, que inclui o manuseio das ervas, a confecção das embarcações e o registro das vivências dos mais antigos. Nossa passagem por aqui é breve, mas os frutos dela podem repercutir para aqueles que estão por vir”, reitera Juliana Carvalho.

O Avoado remete a uma expressão local em que se faz um assado improvisado do peixe que acabou de chegar da maré e, partilhado por todos, é comido ainda quente, com as mãos mesmo. O livro, portanto, reúne uma série de temáticas e histórias para serem consumidas ainda quentinhas. A obra foi aprovada no Edital de Livro e Leitura da Lei Paulo Gustavo, do Estado do Pará.

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Foto: Divulgação/ Avoado Pirabense