Iniciativa reuniu mais de 100 comunicadores de diferentes povos. Encontro também celebrou os dez anos de criação da Mídia Indígena

Comunicadores indígenas de diversas regiões do Brasil participaram, entre os dias 28 a 31 de agosto, no espaço Casa Maraká, em Belém, do 1º Encontro Nacional de Comunicação Indígena (ENCI). A atividade, promovida pelo coletivo Mídia Indígena e pelo Ministério dos Povos Indígenas, foi uma preparação estratégica para a 30ª Conferência Mundial do Clima. O evento reuniu mais de 100 comunicadores de 62 povos, selecionados em um mapeamento feito pelas redes sociais.

O encontro também celebrou os dez anos de fundação do coletivo Mídia, iniciativa referência da comunicação indígena no país.

“A Mídia Indígena nasceu diante da necessidade de romper com a invisibilidade e contar nossas próprias histórias. São dez anos de luta, coragem, resistência e sabedoria, ganhando cada vez mais notoriedade ao conectar experiências, fortalecer a luta dos povos indígenas e consolidar uma rede que se capilariza por todo o país”, afirma Giovana Mandulão, secretária nacional de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (SEART) do Ministério dos Povos Indígenas

Segundo os organizadores, o evento foi a segunda etapa do mapeamento nacional de comunicadores indígenas. A pesquisa, realizada entre novembro do ano passado e março de 2025, registrou 1.095 inscrições e constatou que há diferentes níveis de conhecimento tecnológico de comunicação em diferentes regiões do país, que podem ser nivelados por meio de ações como o próprio Encontro.

 “Isso mostra o quão grande é o alcance da comunicação indígena e o quanto ela consegue inspirar dentro dos territórios. O encontro é simbólico, porém é o primeiro de muitos. Queremos auxiliar a informar a juventude sobre questões climáticas, sobre como fazer a comunicação da COP e outras conferências internacionais”, refletiu Priscila Tapajowara, coordenadora nacional e presidenta do Mídia Indígena.

Evento reuniu nomes de referência no campo da comunicação e do movimento indígena no Brasil (Foto: Helder Kambeba / Ascom MPI)

Ricardo Ykarunī Nawa, co-coordenador geral da Articulação Brasileira dos Indígenas Jornalistas (ABRINJOR), abordou as origens da comunicação indígena em sua palestra. Apesar de não haver uma data exata, ele relatou que a comunicação ancestral sempre existiu e citou alguns marcos históricos, como assembleias nos anos 1970, o mandato do deputado Juruna, do povo Xavante, o Programa de Índio da Rádio USP, de 1985, a Constituição de 1988, o Acampamento Terra Livre, de 2004, entre outros.

Atualmente, a ABRINJOR tem 65 membros, que representam 45 povos, sendo 42 mulheres e 37 formados. A maioria dos membros, 30, é do bioma amazônico. “Esse retrato contemporâneo é uma tentativa de nos inserirmos no campo da comunicação. Se a gente considera que a comunicação é ampla e inclui tantos outros grupos, precisamos nos situar, assim como com nossos marcos.”

O encontro foi encerrado com a leitura de uma carta da comunicação indígena, que pretende orientar a atuação dos profissionais indígenas para o futuro. Em outubro, a organizadora do evento realizará a ação “Varanda pelo clima”, durante as atividades do Círio de Nazaré, em Belém. As atividades são complementares e antecedem os preparativos para a COP30.

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Foto de capa: Helder Kambeba / Ascom MPI