O “Caçador de Trolls” é o primeiro livro de João Paulo Guimarães

As lentes do fotógrafo João Paulo Guimarães, 45, têm como principal finalidade narrar as histórias invisibilizadas de um país marcado por desigualdades sociais. Ao longo de sua carreira, o fotojornalista, natural de Abaetetuba, na região nordeste do Pará, acumula uma série de trabalhos reconhecidos nacionalmente que denunciam as mazelas, as violências e a ausência de políticas públicas ignoradas pela grande mídia. 

Parte desse trabalho pode ser visto no livro “O Caçador de Trolls – monstros sociais pelas lentes de um fotojornalista”, lançado recentemente pela Editora Hortelã. Na publicação, o autor relata de modo aberto sua rotina e seus dramas durante o registro de imagens que ganharam grande repercussão no país.

“O Caçador de Trolls” está disponível para vendas no site da editora Hortelã (Foto: Divulgação)

A obra destaca a busca por histórias que ninguém quer contar, como a de um quilombola assassinado, a vida de familias que vivem em lixões e a rotina de milhares de pessoas abandonados nas ruas de São Paulo. Ao mesmo tempo que exibe as fotografias, o fotógrafo também divide com os leitores seus medos, suas ansiedades, as horas infinitas de ônibus para chegar a locais isolados, as coxinhas de beira de estrada e a dor de deixar a família para mais uma pauta longe de casa.

Guimarães conta que a escolha pelos Trolls do título da obra tem relação direta com a sua família, já que ele brinca de caçar trolls com a filha quando está em casa. Desse modo, explica para a criança, ainda pequena, que precisa partir porque há muitos trolls para caçar. “Mas no livro caminhamos longe das histórias de fantasia. Os trolls, nesse caso, são bastante reais. E estão em toda parte, mesmo que às vezes um pouco escondidos: o Troll da Fome, do Fogo, da Ignorância, da Violência, da Ganância”, detalha.

Umas das imagens mais famosas de João Paulo Guimarães é a do menino Gabriel segurando uma árvore de natal no lixão da cidade de Pinheiro, no Maranhão. Registro viralizou na internet em 2021 (Foto: João Paulo Guimarães)

O prefácio do livro é assinado por Juliano Ribeiro Salgado, cineasta responsável por obras como “O Sal da Terra”. Na apresentação, Salgado ressalta que a obra fala sobre o mundo e a humanidade.” Este livro escancara a diferença entre Trolls e Humanos. João Paulo é Humano, ele se emociona, sente empatia, nos transmite o que cada uma das pessoas que fotografa sente. É por isso que o transporte através da sua subjetividade é tão poderoso. O que ele publica é destinado a tocar e informar e a nos fazer sentir como somos próximos uns aos outros. Lendo as histórias de João Paulo, absorvidos por suas fotografias, nos sentimos humanos, esquecemos por um instante nossos egos que podem a qualquer momento nos transformar em Trolls”.

“Fotografar é como um silêncio que você escuta”

Fotojornalista com trabalhos publicados em veículos como The Intercept Brasil, A Pública, Projeto Colabora, Repórter Brasil, Mongabay, agência de imagens AFP, João define o ato de fotografar como ficar submerso na água. “A sensação de fotografar é como um silêncio que você escuta ainda. É como se você conseguisse entrar na câmera, dentro daquele espaço onde cabe o olho, e o tempo e o espaço são diferentes. A gente fica invisível”, destaca.

Registro dos profissionais da saúde da região amazônica atuando durante a pandemia (Foto: João Paulo Guimarães)

“O Caçador de Trolls” é um livro sobre fotografia, mas tem sua maior força nos relatos sinceros do autor. “Ao mesmo tempo que o livro mostra um lado perverso da nossa sociedade, ao trazer relatos e imagens de um Brasil desigual, ele também nos oferece esperança na história de pessoas que também lutam por um mundo melhor, como Padre Júlio Lancellotti, os bombeiros do Pantanal, os profissionais da linha de frente da saúde ou indígenas e quilombolas. É uma viagem fascinante e perturbadora em busca da humanidade que ainda resta em nós”.

O livro pode ser adquirido no site da editora Hortelã. Além disso, 10% do valor das vendas será destinado à Paróquia São Miguel Arcanjo, em São Paulo, para auxiliar o trabalho com a população em situação de rua realizado pelo Padre Júlio Lancelotti.  

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Foto de capa: João Paulo Guimarães/ Acervo pessoal