A marcha “Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro Não Está à Venda” faz parte da programação do Acampamento Terra Livre, a maior assembleia dos povos originários do país, que em 2025 chega a sua 21a edição
Por Adison Ferreira
Na manhã desta terça-feira, 08/04, representantes de mais de 200 povos indígenas que participam do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília, realizaram a marcha “Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro Não Está à Venda”. A mobilização, que celebrou os 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), reuniu milhares de pessoas nas ruas da capital federal.
O ato percorreu quatro quilômetros, seguindo do Eixo Cultural Ibero-Americano, antigo Complexo Cultural Funarte, onde se concentra o Acampamento, até a frente do Congresso Nacional.
Durante duas horas de caminhada, os manifestantes reivindicaram diversos direitos como demarcação das terras indígenas em todos os biomas, o controle do desmatamento, a atualização e implementação do Plano Nacional sobre Mudança do Clima e melhorias na qualidade da educação indígena do país.
A mobilização foi marcada por cânticos e palavras de ordem para exigir das autoridades públicas o cumprimento de seus direitos. Uma réplica da estátua da Justiça com um cocar indígena foi carregada pelos manifestantes durante o ato como uma forma simbólica de exigir que o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirme o seu entendimento sobre a inconstitucionalidade da Lei 14.701, que instituiu o critério do marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

Para o coordenador-executivo da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Casimiro Tapeba, a marcha é um momento importante para reivindicar direitos e denunciar as violações sofrida pelos originários no Brasil.
“A marcha é importante para mostrar para todos os brasileiros que os indígenas estão presentes na defesa de seus direitos. Somos um povo que resiste há mais de 500 anos contra os mais diversos tipos de violências. E continuaremos resistindo. Os 20 anos da APIB é um exemplo dessa resistência. Estamos aqui para cuidar do nosso território e do meio ambiente, porque entendemos que a terra é sagrada e que nunca deixaremos de lutar pelos nossos direitos”, afirma Tapeba.

Ao final da marcha, a Câmara dos Deputados recebeu mais de 500 lideranças indígenas para uma sessão solene em homenagem às duas décadas da Articulação. O momento foi organizado pela deputada federal Célia Xakriabá, da Bancada do Cocar.
O Acampamento Terra Livre segue até sexta-feira em Brasília. Acompanhe aqui a programação do ATL 2025
Duas décadas de história
O Acampamento Terra Livre é organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), referência do movimento indígena no Brasil e no mundo, em parceria com suas sete organizações regionais: Aty Guasu, Apoinme, ArpinSudeste, ArpinSul, Coiab, Comissão Guarani Yvyrupa e Conselho do povo Terena. O primeiro ATL surgiu em 2004, a partir de uma ocupação realizada por Povos Indígenas do Sul do país, na frente do Ministério da Justiça, na Esplanada dos Ministérios. A mobilização ganhou adesão de lideranças e organizações indígenas de outras regiões do país, reforçando a mobilização por uma Nova Política Indigenista, pactuada no período eleitoral naquele ano.
Dessa forma, foram consolidadas as estruturas para a criação e formalização da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), criada em novembro de 2005 como deliberação política tomada pelo Acampamento Terra Livre daquele ano.
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Foto de capa: Adison Ferreira/ Carta Amazônia
Esta reportagem foi produzida em parceria com com o Programa de Apoio ao Jornalismo (PAJor) do Repórteres Sem Fronteiras