Organizadores da Marcha Global por Saúde e Clima negam relação com o protesto
Da Redação
O segundo dia da COP30, em Belém, terminou com um protesto na Zona Azul, palco das negociações oficiais da Conferência Mundial do Clima. A manifestação contou com a participação de indígenas do Baixo Tapajós e outros integrantes de movimentos sociais que participavam da Marcha Global por Saúde e Clima. Após um percurso pacífico da Embaixada dos Povos, na avenida Duque de Caxias, até o Hangar Centro de Convenções, manifestantes ocuparam a área restrita do evento.
O protesto começou por volta das 19h30, logo após a coletiva de imprensa da Embaixada da COP, que destacou o balanço das atividades do segundo dia da conferência. A Polícia Militar, a Força Nacional e o Corpo de Bombeiros formaram uma barreira para impedir a entrada e saída da área, que exige acesso por credencial e a passagem pelo controle de raio-x, semelhante aos equipamentos usados nos aeroportos.
O confronto resultou na contenção dos manifestantes pelos seguranças, que agiram para remover faixas, bandeiras usadas no protesto Em meio a palavras de ordem e críticas à condução da segurança, um agente ficou ferido e a saída de credenciados foi temporariamente interrompida.
O episódio lança luz sobre o contraste evidente entre a retórica oficial da COP30 sobre inclusão e a limitação de espaço para a sociedade civil. A ação expôs a dificuldade de movimentos sociais e lideranças indígenas – que representam populações diretamente afetadas pela crise climática – em fazer suas vozes serem ouvidas dentro dos espaços de poder da conferência.
O secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, afirmou que a organização da conferência estava tomando todas as providências sobre o tema.
“A ONU tem todos os seus protocolos de segurança. (…) Nós fazemos os pactos pacíficos de convivência com os movimentos e eles (segurança da ONU) estão aqui para garantir a segurança”, afirmou.
Posicionamento dos realizadores da Marcha pela Saúde e Clima
Em nota, os organizadores da Marcha pela Saúde e Clima esclareceram que os “atos que ocorreram após a marcha não fazem parte da organização do evento que tratou de saúde e clima”.
Os realizadores afirmaram que “a marcha foi uma expressão legítima, pacífica e organizada de mobilização popular, construída com diálogo, responsabilidade e compromisso coletivo”.
No documento enviado à imprensa, a organização destacou ainda o “respeito às instituições organizadoras da COP30 e o compromisso com uma Amazônia viva, saudável e sustentável para todos”.
Posicionamento da Apib
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) ressaltou que não coordenou a manifestação realizada por indígenas nesta terça-feira. A organização afirmou que o movimento indígena é amplo e diverso e que não possui relação com o protesto que ocupou a Zona Azul. Em nota, a Articulação reiterou o respeito ao direito de manifestação e à autonomia de cada povo em suas formas próprias de organização e expressão política.
“Estamos na cidade de Belém com mais de 3 mil indígenas, entre brasileiros e estrangeiros. Os povos indígenas não integram as negociações oficiais da COP30, mas têm incidido politicamente há mais de dois anos para que suas demandas sejam ouvidas e incorporadas nas decisões sobre o enfrentamento à crise climática”, destaca a nota.
A organização destacou ainda que “preza pela autonomia de todos os povos se manifestarem democraticamente, sem impor tutela, como o Estado nos impôs durante tantos anos”.
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Foto de capa: Foto: Anderson Coelho/Reuters
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