Durante o cortejo de 4,5 quilomêtros, os participantes reivindicaram diversos direitos como demarcação das terras indígenas, reforma agrária, restauração de manguezais, transição energética e o fim dos combustíveis fosseis

Por Adison Ferreira

O sexto dia da Conferência Mundial do Clima, em Belém, foi marcado, por um ato público que reuniu milhares de pessoas na capital paraense. Na manhã deste sábado (15), a Marcha Global pelo Clima, tradicional protesto da sociedade civil nas COPs, levou 70 mil pessoas às ruas para denunciar crimes ambientais e reivindicar o direito à justiça climática

A marcha marcou o retorno do protesto pelas ruas das cidades-sede das COPs, depois de quatro anos em que a realização da manifestação foi impedida pela pandemia ou devido à realização das conferências em países autoritários.

O cortejo, promovido pela Cúpula dos Povos e COP das Baixadas, percorreu 4,5 quilômetros entre o Mercado de São Brás, na área central da cidade, e a Aldeia Amazônica, no bairro da Pedreira. Durante a caminhada, os manifestantes reivindicaram diversos direitos como demarcação das terras indígenas, reforma agrária, restauração de manguezais, transição energética e o fim dos combustíveis fosseis

“Retomar as ruas com a Marcha Mundial pelo Clima é uma forma de trazer à tona as demandas da sociedade e deixar claro o nosso recado aos tomadores de decisão”, ressalta Mariana Guimarães, assessora política internacional do Comitê COP30.

As ministras Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas; e Marina Silva, do Meio Ambiente, participaram da mobilização.

Sônia destacou a relevância da presença coletiva nas ruas e afirmou que a manifestação reúne povos e movimentos sociais que sempre estiveram à frente desses debates.

‘O ato sempre ajuda. Aqui está a representação do povo, dos movimentos, de quem sempre esteve aqui cuidando, protegendo. Então, aqui estão as mensagens do povo que já vive os impactos das mudanças climáticas. Estamos vários blocos, cada um com sua representação e, certamente, o que é dito aqui vai sim ter uma incidência lá nas decisões”, afirmou Guajajara.

Marina Silva afirmou que a marcha concentra “aqueles que sofrem o problema da emergência climática e que têm o propósito de ajudar a resolvê-lo’

Dyneva Kayabi, da direção da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) destacou a urgência de demarcação de terras indígenas para a garantia de justiça climática.

“Sem demarcação, não tem vida, não tem educação, não tem saúde. A resposta somos nós, porque, sem nós, não temos ar puro, floresta em pé, os rios vivos e não temos a mãe terra completamente preservada”.

A marcha reuniu diversas organizações sociais como movimento indígena e o MST  (Foto: Priscila Ramos / MST)

Ayala Ferreira, da direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ressaltou que a mobilização dos movimentos sociais de Belém mostra que as saídas populares são o único caminho para superação da crise ambiental.

“A marcha é um momento de diálogo com a sociedade. Precisamos denunciar que não existe responsabilidade compartilhada entre todos os seres humanos pela crise ambiental. Ela é consequência direta deste modo de produção capitalista, que se aproveita deste cenário de crise, para ampliar seus lucros. Por isso dizemos que a Reforma Agrária é tão importante, pois ela assegura, por meio da agroecologia, a democratização da terra, a produção de alimentos saudáveis e a construção de relações emancipadas com a natureza”, destaca.

A programação da marcha também incluiu atividades culturais, como oficinas de estandartes e cartazes, bonecos infláveis e também um desfile da cultura paraense com destaque para figuras folclóricas.

O ato marcou o retorno das marchas pelas ruas das cidades-sede das COPs após um hiato de quatro anos (Foto: Rudja Santos/ Carta Amazônia)

Contraponto à COP 30

A Cúpula dos Povos, que ocorre na Universidade Federal do Pará (UFPA) desde o último dia 12, representa um contraponto à COP 30. As organizações que constroem a Cúpula, denunciam que a COP30 não tem condições de apontar as reais saídas para a crise ambiental.

“Na COP, estão presentes todos os causadores da crise ambiental – os países do Norte Global, as grandes empresas capitalistas, as petroleiras e o agronegócio. Por isso, ela não apontará as saídas para esta crise, mas somente fortalecerá mecanismos para estes agentes ampliarem seus lucros”, denuncia Ayala Ferreira.

A Cúpula dos Povos está sendo construída pelos esforços de mais de 1.100 organizações da sociedade civil e, ao longo destes cinco dias, busca proporcionar diálogos abertos ao público, a partir de plenárias, atividades de enlaces dos eixos de convergência. O evento também conta com espaço dedicado à infância e adolescência, feira popular, cozinha solidária e atividades culturais.

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Foto de capa: Rudja Santos/ Carta Amazônia

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