Um museu de grandes novidades

A radiografia do bar-museu adega do Rei em Bragança

 

Um varal de vestimentas especiais. Trajes, uniformes, roupas de baixo, de cima, da França, do espaço. Nas paredes, no teto, para onde quer que se olhe. História em cada peça, em cada detalhe. Um museu, onde a apreciação é acompanhada de uma bebida gelada e trilha sonora ao gosto do freguês. Um bar museu no nordeste do Pará, o único do Estado. No município de Bragança, a referência para os visitantes é o fusca na fachada. Um carro que brotou da terra e foi içado em frente do bar. Tão curioso que de tanto ser admirado, provocou alguns tropeços.

 

“O pessoal vinha entrando e continuava olhando pra cima, acabavam caindo”, comenta Jader Turiel, o curador da obra. Ele tem 53 anos e é o dono da “Adega do Rei” ( http://www.adegadoreibarmuseu.zip.net/), como é intitulado o bar museu bragantino. Um figurão que bate o ponto todo dia na adega. Falta qualquer evento marcado para seu horário de trabalho, afinal, como dizem, não basta ser dono é preciso cuidar de perto. “Orgulho é fazer o que gosta e dar certo”, afirma.

Deu certo mesmo, os clientes são fieis. De segunda a sábado, das 19h às 1h. Sempre alguém tomando uma cerveja, brindando com caipirinha ou no meio de uma partida de bilhar. “Pensei nisso porque não tinha um bar diferenciado na cidade, então criei um bar temático. Comecei do zero, tinha o espaço, olhei para ele e comecei a imaginar como seria. Quando você faz uma coisa louca, as pessoas dizem que não vai dar certo”, diz.

 

No início o que mais ornamentava a adega eram pôsteres, mas aos pouco as combinações apareciam. São 17 anos em constante absorção de peças compradas e presenteadas. “Tudo se encaixa na hora certa”, garante Turiel. “Esse chapéu da cavalaria francesa eu ganhei de um francês que veio aqui, conheceu o bar, gostou e me mandou quando voltou pra França”, revela.

Os tacos do bilhar, em um bidê. A porta do balcão é de um carro. É possível encontrar um ninho de japiim, um de João de Barro, uma estatua réplica de jaguatirica. A radiografia ornamenta um abajur. São mais de duas mil peças. “O fusca da entrada eu encontrei quando ia para um balneário, peguei um atalho e vi a carcaça dele em frente de uma casa. Fui ver e eram vidros originais. O dono disse que eu podia levar a carcaça, pois ele tinha encontrado as peças atrás da casa dele, enquanto construía um açude” revela.

 

Quem chega pela primeira vez, não sabe se engata um papo na mesa ou se observa as peças. Jader fez algumas brincadeiras com pôsteres e fotos de famosos, onde ele se torna o protagonista ou amigo dos importantes. “O dono tem que estar na roupagem do bar”, acredita. Já conheceu o Papa, o Pelé e o Rei, em foto. E em Photoshop também contracenou até com Kate Winslet, Paulo Zulu e Ana Hickman.

 

Para garantir a segurança, um policial ao lado do caixa. “Esse guarda tira mais foto que o dono”, brinca o proprietário do bar. O local é um museu que muda a todo instante. Um avião personalizado, batizado pelo criador de “Airbus Turiel”, foi feito especialmente para que todos façam fotos. Não basta visitar o bar, é preciso registrar o momento. Mas, mexer nas peças não é permitido. “Mexer não é o negócio. Tem gente que vem e já sai botando o chapéu na cabeça. Não é ciúme, mas educação. Não se mexe nas peças”, garante Jader, que limpa todas as peças rotineiramente.

Zelar é preciso. Afinal, são anos de montagem. Computadores antigos, máquinas de escrever, vinis. Tem de tudo, literalmente. E tudo foi feito pensando nas visitações. “Para os banheiros, fiz uma enquete com os clientes e descobri o que eles gostariam de ver dentro dos toaletes”, conta. E na verdade o que os clientes querem ver são fotos eróticas. E muitas. As paredes são forradas de imagens sensuais. Abdomens tanquinhos de um lado, bumbuns perfeitos de outro.

 

A peculiaridade do bar chama tanta atenção que Turiel já pensa em investimentos maiores. A ideia é uma boate no subsolo da Adega. A música por sinal, já é uma das características do bar, rock na maior parte do tempo, até que alguém escolha a música que quer da jukebox. “Essa discoteca era o armário do meu avô e eu adaptei para ficar assim”, comenta. Assim a Adega do Rei, que inclusive é uma homenagem ao pai de Jader – conhecido como rei – vai somando história, chamando gente. “Eu vivo para isso aqui”, garante enquanto cumprimenta um a um dos clientes que chegam.

 

Texto: Gabriela Azevedo
Fotos: Tarso Sarraf