Na abertura do encontro de chefes de Estado que antecede a COP30, em Belém, presidente destacou a urgência a importancia da floresta amazônica no enfrentamento à mudança do clima
Na manhã desta quinta-feira, 06/11, durante a abertura da Cúpula do Clima de Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destacou a urgência de acelerar a transição energética e o papel da floresta amazônica no enfrentamento à mudança climática. O evento reúne líderes de 153 delegações com o objetivo de fortalecer a articulação política.
“Acelerar a transição energética e proteger a natureza são as duas maneiras mais efetivas de conter o aquecimento global. Apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”, afirmou o presidente.
Lula iniciou seu discurso aos chefes de Estado ressaltando a representatividade de realizar a conferência em meio à Amazônia — a maior floresta tropical do planeta. “Pela primeira vez na história, uma COP do Clima terá lugar no coração da Amazônia. No imaginário global, não há símbolo maior da causa ambiental do que a floresta amazônica. Aqui correm os milhares de rios e igarapés que formam a maior bacia hidrográfica do planeta. Aqui habitam as milhares de espécies de plantas e animais que compõem o bioma mais diverso da Terra”.
O presidente brasileiro alertou que esse grande patrimônio natural também está sob ameaça dos efeitos da mudança do clima. “O ano de 2024 foi o primeiro em que a temperatura média da Terra ultrapassou um grau e meio acima dos níveis pré-industriais. A ciência já indica que essa elevação vai se estender por algum tempo, ou até décadas, mas não podemos abandonar o objetivo do Acordo de Paris”, disse em referência à meta global de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C.
Lula apontou que a humanidade tem consciência dos impactos da crise climática há mais de três décadas.
“A humanidade está ciente do impacto da mudança do clima há mais de 35 anos, desde a publicação do primeiro relatório do IPCC. Mas foram necessárias 28 conferências para que se reconhecesse pela primeira vez, em Dubai, a necessidade de se afastar dos combustíveis fósseis e de parar e reverter o desmatamento. Foi preciso um ano adicional para que se admitisse, em Baku, a perspectiva de ampliar o financiamento climático para US$ 1,3 trilhão de dólares”, observou.
Ao longo do discurso, Lula definiu o tom da Conferência Climática de Belém: “A COP30 será a COP da verdade. É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la”. Lula reafirmou que a crise do clima, por sua natureza global e interdependente, só pode ser enfrentada de forma efetiva por meio da cooperação internacional e do fortalecimento do multilateralismo.
O presidente também destacou que, para conter a crise climática, será necessário superar a distância entre a linguagem técnica das negociações e a experiência cotidiana das pessoas. “As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição. Podem não compreender o que são sumidouros de carbono ou reguladores climáticos, mas reconhecem o valor das florestas e dos oceanos”.
Ao afirmar que a mudança do clima precisa estar no centro das decisões de cada governo, empresa e cidadão, o presidente reforça o espírito de mutirão coletivo que anima Belém e orienta o engajamento direto da sociedade civil, dos povos indígenas, das comunidades tradicionais e dos governos locais.
Implementação
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também ressaltou, em seu discurso, a importância das florestas e da transição energética como pilares essenciais para conter o aquecimento global e fortalecer o regime multilateral.

“Esta COP deve inaugurar uma década de aceleração e de resultados. Primeiramente, os países precisam concordar com um plano de resposta ambicioso e credível para realmente limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. As responsabilidades devem ser compartilhadas e as diferenças respeitadas, mas isso não pode servir de desculpa para que as nações deixem de fazer a sua parte”, registrou o secretário-geral da ONU, e acrescentou: “Isso significa trabalhar forte em energias renováveis, eletrificação e eficiência energética; construindo redes modernas e armazenamento em larga escala; e também parar e reverter o desmatamento até 2030”.
Guterres também reforçou que a hora é de ação e não mais de apenas assinar acordos climáticos. “Não é mais hora de negociações. É hora de implementação, implementação e implementação”, enfatizou.
Chamado à ação
Durante o discurso, o presidente Lula também explicou que a Cúpula, precedente à COP30, é uma iniciativa brasileira voltada a reunir forças políticas e promover ações concretas para conter a crise climática. “Esta Cúpula é uma inovação que trazemos ao universo das COPs. As convergências já são conhecidas. Nosso objetivo será enfrentar as divergências. Nós, líderes, podemos e devemos discutir tudo, para além dos muros da Convenção. As palavras ditas aqui serão a bússola da jornada a ser percorrida por nossas delegações nas próximas duas semanas”, finalizou.
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Foto de capa: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR