Os acontecimentos do dia 9 expõem com nitidez a face autoritária do atual Congresso Nacional — um Congresso que não apenas legisla contra os trabalhadores e contra a democracia, mas também ameaça o meio ambiente, a Amazônia e o futuro climático do Brasil. É esta mesma maioria parlamentar, comprometida com retrocessos, que dirige a pauta da reforma administrativa e tenta impor ao país um projeto de destruição social e ambiental.
No Senado, foi aprovada a inaceitável tese do Marco Temporal, uma medida que ataca diretamente os povos indígenas, seus territórios e a proteção da floresta — abrindo caminho para mais desmatamento, invasões e violência na Amazônia. Trata-se de uma decisão que ignora o papel vital das comunidades tradicionais como guardiãs dos biomas e coloca interesses econômicos predatórios acima da vida e da justiça histórica.
Na Câmara dos Deputados, a situação foi igualmente grave. A mando de Hugo Motta, a polícia legislativa agrediu e censurou a imprensa, parlamentares de esquerda foram violentados, e, de forma inédita, o sinal da TV Câmara foi cortado para ocultar dos brasileiros o que acontecia dentro da Casa. Tudo isso para impedir que Glauber Braga – conhecido por sua combatividade em defesa dos direitos do povo e da proteção ambiental – protestasse contra a ameaça de cassação, num gesto totalmente desproporcional ao tratamento dado à extrema direita, quando ela ocupou por 48 horas a mesma cadeira da presidência. Essa violência institucional ocorrera horas antes da aprovação da redução de penas a Bolsonaro e a generais golpistas de setores da extrema-direita e do Centrão para reduzir as penas de Jair Bolsonaro e de generais golpistas, respondendo à chantagem eleitoreira da família do ex-presidente preso.
O famigerado PL da dosimetria não serve aos interesses nacionais, não melhora a vida da população e atende apenas à lógica punitivista e autoritária de setores que lucram com o medo e com o caos político. Assim como o Marco Temporal, tal projeto é expressão de um Congresso que opera contra o bem comum.
Esses ataques ocorrem no mesmo momento em que o Brasil alcança resultados importantes na proteção ambiental. Em 2025, o desmatamento da Amazônia caiu 11,08% entre agosto de 2024 e julho de 2025, alcançando a terceira menor taxa em mais de três décadas. O Pará — estado central na luta ambiental — apresentou a maior redução de desmatamento da Amazônia Legal. Esses avanços são frutos de políticas ambientais sérias, fiscalização dura e presença ativa do Estado. Mas tudo isso é colocado em risco por um Parlamento que insiste em destruir o arcabouço socioambiental do país e que trabalha para enfraquecer direitos, desmontar regras e favorecer setores antiambientais.
Não há democracia sem liberdade de imprensa. Não há justiça sem defesa dos povos indígenas. Não há futuro sem Amazônia viva. E não há país possível sob um Congresso que censura, agride, retrocede e governa para poucos.
Por isso, repudiamos com firmeza:
– as agressões contra parlamentares e jornalistas na Câmara;
– o corte deliberado da TV Câmara;
– a perseguição ao deputado Glauber Braga;
– a aprovação do Marco Temporal no Senado;
– a aprovação do PL da dosimetria;
– e a condução de uma reforma administrativa que visa desmontar o Estado e destruir políticas públicas essenciais, inclusive as ambientais.
Conclamamos jornalistas, sindicatos, organizações ambientais, movimentos sociais, povos indígenas e toda a sociedade brasileira a se unirem para defender a democracia, os direitos socioambientais e a Amazônia. Este Congresso, inimigo do povo, não passará sem resistência.
Fotos: Mário Agra/Câmara dos Deputados; Saulo Cruz/Agência Senado