A iniciativa será desenvolvida ao longo de três anos e vai capacitar e fortalecer 100 famílias impactadas pelos efeitos das mudanças do clima na Comunidade do Abelha, localizada próxima a Manaus
A organização Não Governamental Aldeias Infantis SOS, lança, neste mês, um projeto inédito de Justiça Climática na Comunidade do Abelha, região ribeirinha, próxima a Manaus, no Amazonas. A iniciativa visa a capacitar e fortalecer 100 famílias impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas, com foco especial na proteção de crianças e adolescentes da região.
Por meio de um projeto piloto, a ação recebeu aporte da Hermann Gmeiner Fonds Deutschland, associação promotora da Organização na Alemanha, a fim de garantir o cuidado e os vínculos comunitários de famílias em situação de vulnerabilidade social, atingidas por catástrofes climáticas.
Justiça Climática é um conceito que reconhece a gravidade das desigualdades frente às crises ambientais, que atingem mais fortemente comunidades em maior vulnerabilidade social, violando direitos essenciais das pessoas que ali vivem. Dessa forma, o projeto busca unir direitos humanos, fortalecimento familiar e resiliência comunitária, tornando-se uma resposta essencial e que coloca a dignidade humana no centro das ações.
Nos últimos dois anos, o Rio Negro atingiu os níveis mais baixos em mais de um século, comprometendo o transporte fluvial e dificultando o acesso da Comunidade do Abelha a serviços básicos. Isolada geograficamente e com uma população de 517 pessoas, segundo o Censo 2022, que inclui famílias indígenas oriundas do Alto Rio Negro, a comunidade enfrenta desafios como insegurança alimentar, falta de água potável, ausência de unidades de saúde e serviços de proteção à infância, além de altos índices de evasão escolar.
Segundo os organizadores da Aldeias Infantis SOS, o projeto surge em resposta direta à seca severa de 2023 e ao relato de violações de direitos feito por profissionais da rede de proteção. Segundo lideranças locais, a seca na região acentuou episódios de violência contra crianças e adolescentes, realidade agravada pela ausência de políticas públicas e equipamentos essenciais como Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e Conselho Tutelar. Com a vazante extrema do rio Tarumã-Mirim, parte dos trajetos precisou ser feita a pé, em meio à lama, comprometendo o acesso a escolas, serviços e fontes de renda para a população.
A organização, que atua há décadas com meninos e meninas que perderam ou estão em risco de perder o cuidado parental, identificou a necessidade urgente de uma ação focada na redução de riscos e fortalecimento das condições de cuidado no território amazonense.
“Justiça climática também é justiça social. Queremos garantir que nenhuma criança cresça sozinha, que todas as famílias tenham condições de cuidar com dignidade dos seus filhos e que a comunidade esteja mais forte para enfrentar os desafios do clima”, afirma Michéle Mansor, gerente Nacional de Desenvolvimento Programático da Aldeias Infantis SOS.

A iniciativa será desenvolvida ao longo de três anos e contempla ações de empoderamento familiar direto, com apoio intensivo a 40 famílias em situação crítica, e empoderamento comunitário, com capacitação de até 60 famílias, formação de um comitê local, rodas de conversa, oficinas temáticas e incentivo à liderança jovem em ações ambientais.
As atividades incluem escuta e orientação em saúde, moradia, segurança alimentar e geração de renda, além de encontros sobre como proteger crianças e adolescentes em períodos de crise climática. A proposta também prevê o envolvimento ativo de indígenas, mulheres, jovens e idosos para garantir a representatividade e a construção de soluções coletivas.
________________________________
Com informações da Aldeias Infantis SOS)
Foto de capa: Nayani Teixeira / Unsplash