Em evento da Fecomércio-AM, Plínio Valério (PSDB) fez declarações violentas contra a ministra do Meio Ambiente e declarou que a BR-319 será concluída “nem que seja na porrada”. O senador afirmou ainda não entender “porra nenhuma” de Zona Franca

Por Fred Santana

O senador Plínio Valério (PSDB) fez declarações polêmicas durante um evento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio AM), na última sexta-feira (14/03/2025), em Manaus. O parlamentar afirmou que sentiu vontade de “enforcar” a ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva, ao relembrar sua participação na CPI das ONGs. “A Marina teve, na CPI das ONGs, seis horas e dez minutos. Imaginem o que é tolerar a Marina, seis horas e dez minutos, sem forcá-la”, declarou o senador, arrancando risos da plateia.

A fala do senador gerou críticas por seu teor violento, especialmente contra uma mulher em posição de liderança. No Brasil, declarações que incitam violência de gênero podem ser enquadradas na Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), que protege mulheres contra violência doméstica e familiar, e na Lei do Feminicídio (Lei 13.104/2015), que classifica o assassinato de mulheres por razões de gênero como crime hediondo. Além disso, o Código Penal prevê punição para incitação ao crime (artigo 286) e ameaça (artigo 147).

Durante o evento, que celebrou 71 anos da Federação, Plínio Valério voltou a criticar a ministra ao falar sobre a BR-319, rodovia que liga o Amazonas a outros estados. Segundo ele, a obra será concluída “nem que seja na porrada”. O senador ainda alegou que o presidente Lula (PT) deseja demitir Marina Silva, mas não pode fazê-lo por pressões externas.

O evento, que homenageou o senador por sua atuação na regulamentação da reforma tributária, também reconheceu os senadores Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD), além de outras autoridades regionais. Durante seu discurso, Plínio afirmou que não precisa participar de todas as discussões sobre a Zona Franca de Manaus em Brasília, pois conta com sua assessora técnica, Ivone. “Não entendo porra nenhuma de Zona Franca, de tributo”, declarou.

Após a repercussão negativa de suas falas, o senador divulgou uma nota afirmando que suas declarações foram “retiradas de contexto”. Ele reforçou seu compromisso com a defesa da Zona Franca de Manaus e mencionou sua atuação como relator da Lei de Informática e seu voto favorável à reforma tributária para preservar os incentivos fiscais da região.

As declarações do senador ocorrem em um momento em que o Brasil enfrenta altos índices de violência contra mulheres. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país registrou 1.437 casos de feminicídio em 2023, o que equivale a quase quatro assassinatos de mulheres por dia. Especialistas alertam que falas como a de Plínio Valério reforçam uma cultura de violência e impunidade, deslegitimando os esforços para combater o problema.

O Ministério Público Federal (MPF) do Acre arquivou em fevereiro de 2024 a denúncia oferecida pelo relatório final da CPI das ONGs do Senado Federal contra seis agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) por falta de provas. Em dezembro de 2023, a comissão entregou seu relatório de conclusão sem indiciar nenhuma ONG ou mesmo apresentar provas de atividades irregulares. O documento apenas desqualifica e critica o trabalho das organizações na Amazônia.

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Publicado originalmente no portal O Vocativo, de Manaus.

Foto: Andressa Anholete/Agência Senad