O protagonismo da mulher na Amazônia marcou os três dias dos “Diálogos Amazônicos”, evento da sociedade civil que discute novas estratégias para a região. O encontro, realizado nos dias 4, 5 e 6 de agosto, no Hangar Centro de Convenções, em Belém/PA, debateu o protagonismo feminino na agenda climática e na conservação da floresta.

A programação foi inaugurada, no dia 04/08, com um painel chamado “Mulheres da Panamazônia – Direitos, Corpos e Territórios por Justiça Socioambiental e Climática”. A atividade reuniu diversas ativistas brasileiras e estrangeiras, indígenas e representantes do governo como a ministra Cida Gonçalves, do Ministério das Mulheres.

Na manhã do dia 05/08 ocorreu uma plenária com o tema “Mulheres pelo bem viver, a justiça climática e combate à desigualdade”. A programação contou a participação das ministras de Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; da Igualdade Racial, Anielle Franco; e das Mulheres, Cida Gonçalves; e com a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana.

Racismo Ambiental

Anielle Franco ressaltou que a discussão é uma oportunidade para debater temas urgentes como o racismo ambiental, processo que evidencia os impactos de grandes projetos e empreendimentos sobre os modos de vida de povos e comunidades tradicionais.

A expressão Racismo Ambiental foi usada pela primeira vez em 1981, pelo químico e lider de movimento negro, Benjamin Franklin Chavis, nos Estados Unidos. O conceito surgiu a partir de pesquisas e investigações que apontaram que os depósitos de resíduos tóxicos se concentravam em áreas habitadas pela população negra norte-americana.

Na definição original, traduzida para o português, racismo ambiental é a discriminação racial na elaboração de políticas ambientais, aplicação de regulamentos e leis, direcionamento deliberado de comunidades negras para instalações de resíduos tóxicos, sanção oficial da presença de venenos e poluentes com risco de vida à comunidades e exclusão de pessoas negras da liderança dos movimentos ecológicos.

“Os problemas da mudança do clima afetam de forma diferente e com mais intensidade os mais pobres, o povo preto, os povos indígenas, as pessoas que forma vulnerabilizadas”, ressaltou a ministra do Meio Ambiente. Marina defende uma perspectiva de desenvolvimento com base no conceito andino de bem viver.

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima (Foto: Audiovisual/PR)

Joênia Wapichana destacou a importância da participação dos indígenas nos debates de conservação ambiental e mudanças climáticas. “Quando nós falamos de direito coletivo, envolve mulheres, jovens, crianças, idosos. É um ponto de ligação constitucional da Funai que é justamente voltar a lutar pela demarcação das terras indígenas. O governo Lula agora, com seis meses, a Funai já retoma principalmente esse direito central que é a demarcação das terras. É a nossa demanda prioritária”, afirmou a presidente da Funai.

Cida Gonçalves apontou que o Ministério das Mulheres trabalha junto ao dos Povos Indígenas em um programa chamado Mulheres Guardiãs. “Nós estamos discutindo a questão da Casa da Mulher Brasileira para atender também as mulheres indígenas vítimas de violência. Aqui, no Pará, já vamos inaugurar uma em Ananindeua. Temos um terreno aqui em Belém, e vamos ter em Marabá, Santarém… e depois fazer a divisão dos territórios onde elas serão instaladas”, afirmou.

Para a lider quilombola Marta Leite Dias, do municipio de Baião, nordeste paraense, a participação de mulheres de comunidades tradicionais da Amazônia é fundamental nesses espaços. “É muito importante que nós, mulheres de comunidades floresta, que vivem os impactos das mudanças climáticas de forma mais intensa, estejamos nesses espaços, debatendo e engajando a nossa luta para dizer que somos contra a devastação da Amazônia”.

Marta Leite Dias (Foto: Cecilia Amorim/Carta Amazônia)

Além plenárias oficiais, durante todo o evento também foram realizadas programações auto-organizadas em espaços menores com debates abertos ao público, incluindo a discussão de pautas prioritárias paras as mulheres da Amazônia.

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Foto de capa: Audiovisual/PR