De acordo com o levantamento, a cidade apresenta os piores índices de acesso à água potável e coleta de esgoto entre as 100 maiores cidades do país
A cidade de Santarém, na região oeste do Pará, possui o pior saneamento básico do Brasil entre os 100 municípios mais populosos do país. A afirmação é do levantamento Ranking do Saneamento 2025, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, com base em dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.
Segundo o Trata Brasil, apenas 48,49% da população de Santarém tem acesso à água potável, e somente 3,77% contam com coleta de esgoto. Além disso, apenas 8,61% do esgoto gerado é tratado, enquanto 48,72% da água potável é desperdiçada antes de chegar às residências.
A pesquisa também mostra que o município paraense investe apenas R$ 37,35 por habitante em saneamento, o que representa 16,7% do valor mínimo considerado ideal pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), estimado em R$ 223,82 por pessoa. A baixa aplicação de recursos é apontada como um dos principais obstáculos para a ampliação e melhoria dos serviços.
Confira aqui a lista dos 100 municípios apresentados na pesquisa

Sem planejamento estruturado e aumento significativo dos investimentos, a universalização do saneamento segue distante da realidade da cidade. Para os organizadores da pesquisa, a situação de Santarém é um reflexo de um cenário ainda mais amplo no estado do Pará, que também apresenta desempenho crítico em saneamento básico. Apenas 51,6% da população paraense tem acesso à água potável, enquanto só 17,3% conta com coleta de esgoto. Do total de esgoto gerado, apenas 19,3% passa por tratamento.
Os dados colocam o estado sede da COP30 em alerta, especialmente diante das metas estabelecidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento, que exige, até 2033, a universalização do acesso à água potável (99%) e a ampliação da coleta e tratamento de esgoto para 90% da população brasileira.
Posicionamento da Prefeitura de Santarém
Em nota enviada para a agência Carta Amazônia, a Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra), informou que conta com projeto de obras de esgotamento sanitário para a área urbana e rural da cidade e que está trabalhando, junto com a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), em busca de recursos para a execução desses projetos.
O documento destaca ainda que já existe um projeto de Sistema de Abastecimento de Água em Alter do Chão, que está sendo construído pelo Governo do Estado. “O sistema de água e esgoto norteia e atende a todos os requisitos necessários na parte ambiental e deverá atender uma população de mais de 14 mil habitantes”, afirma a nota.
A Prefeitura também informou que outra obra importante de esgotamento sanitário no município são as ligações domiciliares, que fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento II (PAC II), que contempla os bairros da Aldeia, Santa Clara, Aparecida, Santíssimo e Centro.
“Existe mobilização para concretizar parceria com a iniciativa privada, objetivando um sistema de abastecimento de água e tratamento de esgoto mais eficaz e que abranja todas as zonas. O município conta com um sistema de drenagem eficiente em sua maioria e coleta de resíduos que atende 100% dos bairros”, desta a nota.
Cenário crítico
A escolha de Belém como sede da COP30 projetou o Pará para o centro do debate global sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. No entanto, os números do Ranking do Saneamento 2025 escancaram um paradoxo: enquanto líderes internacionais discutirão soluções para o futuro do planeta, milhões de pessoas no próprio estado anfitrião ainda vivem sem acesso a serviços básicos de saneamento.
Para especialistas, o contraste reforça a urgência de tratar o saneamento como uma prioridade nas políticas públicas, dado seu impacto direto na saúde, na dignidade humana e na preservação ambiental, especialmente em uma região que pretende se apresentar ao mundo como símbolo de compromisso com o desenvolvimento sustentável.
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Foto de capa: Roni Moreira / Ag.Pará