Iniciativa fortalece a voz das periferias amazônicas na agenda de enfrentamento à crise climática

Por  Suellen Nunes

Com o fim da COP30 e de mais um ciclo de negociações internacionais sobre a crise climática, experiências locais reforçam que as respostas urgentes também precisam nascer dos próprios territórios. Em Belém (PA), o OBx (Observatório das Baixadas) surge com essa missão: fomentar debates sobre os desafios que marcam o cotidiano das baixadas e periferias amazônicas, valorizando o conhecimento científico e tecnológico produzido por quem vive esses espaços. Assim, o observatório se dedica a compreender e discutir as questões sociais, ambientais e as dinâmicas que estruturam a vida periférica.

Em meio às discussões da COP30, iniciativas como o Observatório das Baixadas ganham relevância por atuarem de forma próxima às comunidades e por produzirem informações acessíveis e conectadas às realidades locais. Nesse cenário, experiências como a do OBx aparecem como caminhos possíveis para aproximar diretrizes nacionais e internacionais das necessidades cotidianas de territórios vulneráveis, como os de Belém.

Reunião do Observatório das Baixadas em Belém. (Foto: Acervo/ Observatório das Baixadas )

“O desfecho da COP deixa claro que a adaptação climática só pode avançar de fato quando parte das realidades mais expostas à crise, especialmente aquelas onde seus efeitos já são sentidos no presente. Em periferias e baixadas como as de Belém, os impactos se manifestam em alagamentos constantes, calor extremo, falta de água e infraestrutura frágil. Apesar de acordos internacionais e promessas de financiamento, permanece um grande descompasso entre os recursos anunciados e o apoio que realmente chega às comunidades que enfrentam esses desafios todos os dias”, explica Waleska Queiroz, cofundadora e coordenadora de Relações Institucionais do Observatório das Baixadas.

Ações práticas para a Amazônia

O Observatório das Baixadas desenvolve ações voltadas à justiça climática nas periferias amazônicas, produzindo dados que evidenciam como a crise climática afeta esses territórios. Iniciativas como o Atlas das Baixadas, iniciado em 2024 e o Censo Climático, que terá inicio em janeiro de 2026, ajudam a identificar áreas mais vulneráveis e orientar prioridades de adaptação, ao mesmo tempo em que fortalecem a formação de jovens pesquisadoras e pesquisadores periféricos em temas como clima, raça, gênero, território e tecnologia.

O OBx desenvolve ações voltadas à justiça climática nas periferias amazônicas, produzindo dados que evidenciam como a crise climática afeta esses territórios. (Foto: Acervo/ Observatório das Baixadas )

O trabalho também envolve atividades de educação ambiental, mobilização comunitária e pesquisa aplicada, incluindo oficinas, rodas de conversa, cartografias sociais e incidência política para inserir as demandas das baixadas nos debates públicos. Além disso, o OBx realiza monitoramento ambiental e levantamento de riscos, considerando saberes ancestrais, natureza e modos de vida locais como partes essenciais para construir soluções climáticas mais justas e adequadas ao território.

“Quando a comunidade participa das atividades do Observatório, passa a integrar diretamente a construção coletiva do nosso trabalho, que nasce sempre do diálogo com os territórios. Moradoras e moradores contribuem ao relatar situações como alagamentos, ondas de calor, falta d’água e falhas de infraestrutura, permitindo que essas vivências se convertam em informações úteis para instrumentos como o Atlas das Baixadas e para a formulação de políticas públicas. Além disso, o apoio pode vir de diferentes formas: doações de equipamentos, disponibilidade de tempo, troca de conhecimentos ou participação nas campanhas digitais, que ajudam a ampliar a visibilidade das pautas e a fortalecer a pressão por ações mais justas para as periferias.” diz Waleska.

O futuro no Observatório

O projeto dará início à primeira fase do Censo Climático, no bairro da Terra Firme em Belém, com um levantamento detalhado de informações sobre os impactos climáticos, infraestrutura, áreas de risco, acesso à água, saúde e espaços verdes. A partir desses dados, serão elaborados indicadores que refletem a realidade climática das baixadas, configurando um projeto piloto construído junto à própria comunidade. Enquanto isso, paralelamente, o programa “Atlas das Baixadas” seguirá sendo atualizado, incorporando novas camadas, com a participação ativa da população, além de avançar na sua expansão para outras regiões do país.

Ao mesmo tempo, o Observatório continuará promovendo o projeto de simulação da COP30 em escolas e comunidades, ampliando a compreensão sobre negociações climáticas entre jovens e moradores. Novas ações serão desenvolvidas com foco nas mulheres, por meio do Grupo de Trabalho de Raça e Gênero, reforçando a perspectiva interseccional na construção da agenda climática das baixadas e fortalecendo a participação comunitária na busca por soluções mais justas e efetivas.

O projeto, lançado oficialmente em setembro de 2024, nasceu a partir da iniciativa de Waleska Queiroz e Andrew Leal, jovens moradores de Belém, e contou com a co-fundação de Thuane Nascimento (PerifaConnection) e Jean Ferreira (COP das Baixadas). Juntos, eles desenvolveram uma plataforma independente voltada para acompanhar, fortalecer e amplificar a voz das periferias amazônicas frente aos desafios climáticos. Para conhecer mais sobre o projeto, é possível entrar em contato pelo Instagram @observatoriodasbaixadas ou acessar o site www.observatoriodasbaixadas.org.

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Foto de capa: Acervo/ Observatório das Baixadas

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