Brigadistas voluntários da região amazônica participaram nos dias 7 a 9 de novembro, em Brasília, de um evento nacional que discutiu políticas públicas para o fortalecimento de iniciativas de combate e prevenção a incêndios florestais no país. O 3º Workshop para Construção da Estratégia Federal do Voluntariado no Manejo Integrado no Fogo (MIF) reuniu cerca de 70 participantes para discutir a construção de uma estratégia que oriente o voluntariado no MIF nos próximos anos.
No evento, promovido pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, brigadistas e representantes do governo federal e de entidades do terceiro setor debateram sobre o cenário e os desafios das ações de voluntariado no Manejo Integrado no Fogo nos diversos biomas do país. A edição fechou o ciclo de workshops participativos sobre MIF iniciados em abril deste ano.
“A construção de uma política pública com a participação do governo, sociedade civil e representações dos voluntários que atuam com Manejo Integrado do Fogo no Brasil é fundamental para a construção de uma estratégia que reconheça o impacto positivo dessas iniciativas, que valorize esses grupos e que contemple diretrizes de atuação conectadas com a realidade desses grupos”, afirma Angela Pellin, coordenadora de projetos do IPÊ.
A programação contou com a apresentação de resultados dos estudos realizados pela equipe e produzidos nos dois últimos workshops, realizados em abril e junho de 2023, além de discussões sobre conceitos, aspectos jurídicos e financeiros, o papel institucional dos envolvidos e as particularidades que devem ser consideradas em territórios estratégicos do país, considerando as iniciativas voluntárias de combate e prevenção a incêndios florestais e outras ações de conservação.
O trabalho dos brigadistas voluntários é fundamental no combate às queimadas na Amazônia, que têm se intensificado nas últimas semanas no Pará e no Amazonas. No território paraense as queimadas se concentraram na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, em outubro; e na Área de Proteção Ambiental de Alter do Chão, neste mês.
Integrante da Brigada de Alter do Chão, João Romano, esteve no evento e compartilhou as suas experiências, aprendizados e desafios na prevenção e combate aos incêndios florestais com brigadistas das cinco regiões do país. “Além de ajudar a construir uma estratégia federal que reconheça e valorize a atuação desses grupos voluntários que atuam com Manejo Integrado do Fogo no Brasil, esse evento também é importante para proporcionar um intercâmbio de conhecimento com quem faz esse tipo de trabalho. Isso é fundamental para a visibilidade dessas iniciativas e o fortalecimento da nossa luta”, destaca o voluntário.
Fundadora da Brigada Guardiões do Território Kumaruara, no oeste paraense, Tainan Kumaruara também compartilhou os seus conhecimentos no workshop. Segundo ela, a atuação das brigadas comunitárias ajuda a reforçar o protagonismo dos povos indígenas na defesa da floresta. “A nossa atuação vai além da proteção ao meio ambiente. É um trabalho que demarca a ancestralidade do nosso povo e a resistência na luta pela proteção do território e do nosso modo de vida. Por isso, além do monitoramento, o trabalho da brigada também envolve educação ambiental sobre a proteção da floresta para as futuras gerações”.
Assistente técnica do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais – Prevfogo, do Ibama, Mariana Senra de Oliveira, afirma que o workshop é um exemplo de construção de políticas públicas ambientais junto com a sociedade civil. “A participação de diversos representantes da sociedade civil nesse espaço mostra que a estratégia federal de voluntariado no Manejo Integrado no Fogo não está sendo construída somente pelo poder público. Isso mostra que a chance de a gente ter um documento que foi implementado realmente com a participação das pessoas é muito maior”.
Para Rafael Gava, presidente da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV), o evento reforça o protagonismo dos voluntários que atuam com MIF no país. “Não dá para falar de construção de políticas públicas sem ouvir a sociedade civil, de fato. Por isso, inserir os brigadistas voluntários no centro dessas discussões sobre a construção de políticas públicas para o MIF é importantíssimo. Afinal, o trabalho desses grupos é fundamental não apenas para o combate ao focos de incêndio, mas para a conservação da biodiversidade, que é uma pauta urgente nessa época de mudanças climáticas”, destaca.
Voluntariado no MIF
O Workshop faz parte da agenda do projeto Voluntariado no Manejo Integrado do Fogo – MIF, iniciativa que visa apoiar a estruturação de uma estratégia federal de voluntariado no manejo integrado do fogo no país. A ação tem uma abrangência nacional, com potencial de contribuição junto ao sistema de unidades de conservação (UCs) e seu entorno, terras indígenas e territórios quilombolas, além de elementos integradores de paisagem como reservas legais e áreas de preservação permanente, no âmbito das propriedades particulares.
O projeto é realizado pelo IPÊ em parceria com a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), Coordenação de Manejo Integrado do Fogo (CMIF) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.