Comunicadores de diversas etnias participaram, nesta quinta-feira (27), de uma, plenária no Acampamento Terra Livre, em Brasília/DF, para discutir o protagonismo da comunicação indígena na decolonização, denúncia e luta por direitos. Durante a atividade, os comunicadores compartilharam suas experiências, relataram os desafios e destacaram a importância da comunicação como ferramenta de resistência dos povos tradicionais.

Pioneiro em produção de conteúdo realizado por indígenas, Alexandre Pankararu, comunicador social da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), relembrou o início desse movimento, há 23 anos, quando surgiram as primeiras iniciativas de comunicação indígena no Brasil.

 “Desde o ano 2000 pra cá, a gente tem percebido uma evolução muito grande na comunicação indígena e isso é gratificante. Quem acompanhou o primeiro ATL, em 2004, sabe o quanto a nossa comunicação era limitada, tanto em relação a equipamento, quanto em relação ao número de pessoas. Por isso, ver tantos jovens atuando hoje nessa área é uma felicidade enorme. Isso fortalece demais a nossa luta. E esse é o caminho que acredito, usar os meios de comunicação para fortalecer a nossa luta e entender a comunicação indígena como uma missão, pois, é assim que ela deve ser compreendida”, destaca Alexandre.

Alexandre Pankararu, comunicador social da APOINME – Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste,
Minas Gerais e Espírito Santo (Foto: Adison Ferreira/Carta Amazônia)

Fundador do coletivo Mídia Indígena, o jornalista Erisvan Guajajara compartilha o mesmo sentimento de Pankararu em relação ao uso da comunicação como instrumento de fortalecimento da ancestralidade. Ele afirma que a principal finalidade do coletivo, criado em 2015, é mostrar o protagonismo dos povos tradicionais, a partir de suas próprias narrativas.

“O coletivo Mídia Indígena conta a colaboração de diversos comunicadores, espalhados por vários territórios indígenas do país. Desde quando foi criado, em 2015, o coletivo sempre reforçou a importância de ouvir e dar visibilidade ao protagonismo e a narrativa do povo indígena. É essa visibilidade que a gente quer, contar a nossas histórias como elas realmente devem ser contadas”, ressalta Erisvan.

Protagonismo das mulheres

Samela Sateré Mawé, comunicadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), defende que o protagonismo feminismo também precisa ser reforçado dentro da comunicação produzida pelos povos tradicionais. “A gente tem esse papel de fazer que essas mulheres sejam evidenciadas, tenham seus espaços fortalecidos.  Por isso, nós da ANMIGA, queremos ver mais mulheres comunicadoras dentro dos povos, dentro dos seus territórios. Nós acreditamos que comunicação indígena, feita por mulheres, seja um instrumento de fortalecimento desse protagonismo”.

Representantes da comunicação indigena de nove coletivos ou associações compartilham suas lutas, conquistas e anseios apartir das realidades de cada povo (Foto: Adison Ferreira/Carta Amazônia)

Comunicação indígena contra a desinformação

Coordenador da Rede de Jovens Comunicadores Indígenas da COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, Mitã Xipaya, ressalta que a comunicação indígena também é um instrumento essencial para se combater a desinformação dentro dos territórios. Criada em 2020, durante o período de pandemia, aRede de Jovens Comunicadores Indígenas da COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, foi fundamental para orientar os povos indígenas da Amazônia em relação à prevenção contra a Covid-19 e o combate as fakenews sobre vacinação.

“A Rede de Jovens Comunicadores da COIAB foi um projeto que deu muito certo. Através de diversas ações dos comunicadores indígenas da nossa rede, a gente conseguiu fazer campanhas de conscientização com os parentes sobre vacinação e com isso combater toda a desinformação sobre a pandemia que chegava até as aldeias. O resultado disso foi muito gratificante. Por isso debater esse tema aqui no ATL é fundamental. É através desse olhar diferenciado e do trabalho coletivo que conseguimos fortalecer a comunicação dentro dos nossos territórios”.

Acampamento Terra Livre

O primeiro ATL surgiu em 2004 a partir de uma ocupação realizada por povos indígenas do sul do país, na frente do Ministério da Justiça, na Esplanada dos Ministérios. A mobilização ganhou adesão de lideranças e organizações indígenas de outras regiões do país, principalmente das áreas de abrangência da Arpinsul, COIAB e da APOINME, reforçando a mobilização por uma Nova Política Indigenista, pactuada no período eleitoral naquele ano.

Dessa forma, foram consolidadas as estruturas para a criação e formalização da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), criada em novembro de 2005 como deliberação política tomada pelo Acampamento Terra Livre daquele ano.

Sobre a Apib

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil é uma instância de referência nacional do movimento indígena. Ela aglutina sete organizações regionais indígenas e nasceu com o propósito de fortalecer a união dos povos, além de articular e mobilizar organizações indígenas de diferentes regiões do país contra as ameaças e agressões aos direitos indígen