Por Cecilia Alves Amorim

Entrei no jornalismo com o sonho de ser escritora, escrever era minha paixão e ainda meu sonho. Na graduação conhecemos as diversas ramificações do jornalismo, mas apesar de ser amazônida por adoção e estar cursando jornalismo em um território onde as questões ambientais são muitas e plurais, não temos em muitas universidades da região norte uma matéria focada no jornalismo ambiental. 

E qual o problema disso? 
O problema é que todos os anos entram nas redações estudantes que não têm um conhecimento mínimo sobre a questão ambiental e muito menos de como atuar nele. Eu não fui diferente. Entrei nas redações sem saber nada de jornalismo ambiental mas desejosa de falar do meu território. Ser porta voz do nosso povo, das nossas causas. 

Em 2020 o Adison Ferreira, Eraldo Paulino e Felipe Melo, três amigos meus de longa data (desde a graduação no caso), começaram o podcast Carta Amazônia, a ideia era aproveitar esse novo formato midiático para realizar o sonho de pautar a Amazônia. A proposta era criar uma revista em formato de áudio. Pouco depois me convidaram para fazer parte do projeto. A ideia não era focar na temática ambiental, queríamos falar sobre temas diversos. Comunidades tradicionais, pesquisas, política, economia, temas urbanos, temas rurais, racismo, cultura… enfim, mas sabe o que percebemos? Neste território, a temática ambiental perpassa por todos os outros temas.  É impossível falar sobre a floresta sem levar em consideração os povos que habitam nela. É impossível falar de racismo ambiental sem falar dos moradores das periferias dos centros urbanos amazônicos, ou dos ribeirinhos e povos originários que sofrem diariamente com os impactos dele. Não dá para falar de mudanças climáticas sem falar que as populações que menos contribuem para o problema têm todo seu modo de vida impactado por ele.

Mas o que é jornalismo ambiental na Amazônia? 
O jornalismo ambiental amazônico desempenha um papel fundamental na defesa do ecossistema, território e da população. Ele é a voz da floresta, dos povos tradicionais, dos ambientalistas e ativistas, dos rios, das periferias urbanas… Ele investiga, observa, vigia e denuncia as ameaças e violações que chegam ao território, mobilizando a sociedade para a sua defesa. Parece poético, mas não é. É necessidade! 

Com isso, podemos destacar quatro características do jornalismo ambiental amazônico:

1º jornalismo de investigação;
2° jornalismo de denúncia;
3º jornalismo sentinela;
4° jornalismo necessário. 

E aí, como pautar a Amazônia?
Durante muito tempo foi negado ao jornalista amazônico reportar o que acontecia em seu território. O protocolo era enviar um jornalista, geralmente do Sudeste, para fazer a cobertura do que acontecia na região. E confesso, isso sempre foi uma dor para os profissionais da comunicação local. Esses eram usados apenas como ponte para se chegar em uma determinada comunidade, mas nunca tinha direito a voz. Temos lutado contra essa lógica colonialista que sempre pauta nosso território segundo o olhar externo. Parece um desabafo, e é. Mas, quero ressaltar que isso não quer dizer que os jornalistas não amazônidas não possam falar sobre a região. Podem e devem. Precisamos somar forças. 

Então, Cecilia, como devo falar sobre o território?

 Se você não é da região, a primeira coisa a fazer é reconhecer que você sempre terá um olhar externo, reconhecer seu local e usar seu espaço para dar protagonismo para a região. É preciso se despir de tudo que você pensava saber sobre a região e seu povo. Pesquisar bastante, mas principalmente, ter tempo. É necessário criar uma rede de contatos regionais, se dar tempo para investigar, interagir e conversar.

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Foto: Harrison Lopes

O texto fez parte do projeto Diversa a newsletter que fala sobre jornalismo e diversidade do Laboratório de Jornalismo Énois.