Por Fred Santana – editor do site Vocativo
No dia 04 de novembro deste ano, quando Manaus estava coberta por fumaça de queimadas, o governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado da Comunicação (Secom-AM), lançou comunicado afirmando que o problema acontecia no Pará. Mas, segundo estudo feito por dois pesquisadores do Amazonas, os focos de queimadas estavam, na verdade, no Amazonas mesmo, mais precisamente ao sul do estado, na área de influência da BR-319.
Na ocasião, o governo afirmou que “as imagens dos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram a grande contribuição de incêndios florestais no Estado do Pará, próximo à região do Baixo Amazonas, na intensificação da fumaça sobre a capital Manaus desde o final de outubro, quando a qualidade do ar na cidade voltou a ficar comprometida”. Mas não foi o caso.
Utilizando metodologias diferentes, os pesquisadores Lucas Ferrante, doutor em Biologia (Ecologia) e pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Philip Fearnside, biólogo norte-americano ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2007, analisaram dados de diversas fontes, como PurpleAir, Meteored, Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e do próprio INPE, que mostram que a fumaça é originada de focos de queimadas ao sul de Manaus. O estudo já foi submetido à revista científica e uma nota técnica baseada no levantamento já foi enviada ao Ministério Público do Amazonas (MPAM).
“Nós realizamos um trabalho multidisciplinar envolvendo várias metodologias diferentes. Dentro deles, uma análise dos focos de queimadas, com base nos próprios dados do INPE, que mostraram que hoje o Pará concentrou o recorde de focos de queimada. Entretanto, houve uma grande concentração de focos de queimadas no Estado do Amazonas, ao sul da cidade de Manaus, entre os municípios de Careiro e Autazes, que foram os responsáveis por essa fumaça”, explica Ferrante.
No estudo, também foram utilizados dados como fluxo dos ventos e chuvas, para interpretar essas oscilações e os movimentos dessa fumaça, além de sensores do tipo do PurpleAir. A vantagem é que muitos desses sensores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) são distribuídos em Manaus. Há também um desses sensores na cidade de Santarém (PA), além de dados do Observatório da Torre Alta da Amazônia (Atto). Trata-se de uma uma torre de mais de 300 metros com sensores desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em parceria com a Alemanha.
Cruzando essas informações foi possível identificar a fonte da fumaça, no caso, uma velha conhecida pelos impactos ambientais: a BR-319. “Com base nos dados de focos agregados em torno de Manaus, nós vemos uma concentração muito grande de focos de queimadas em Careiro e Autazes, ou seja, no norte da rodovia BR 319”, revela Ferrante.
Vale ressaltar que sim, há focos de queimadas e fumaça em Belém, mas não foram eles os responsáveis pela péssima qualidade do ar de Manaus nos últimos meses. “Quando nós comparamos os índices de qualidade do ar também de partícula de concentração de partículas ppm 2,5, verificamos, por exemplo, que Santarém, no Pará, teve um índice muito menor do que Manaus e a Atto também que recebe os ventos vindos do leste, ou seja, do Pará, também registraram menores índices de queima de de que a cidade de Manaus”, avalia o pesquisador.
Ou seja, definitivamente a fumaça não tem origem no Pará. “Esses medidores apontam que, de fato, os medidores ao sul da cidade de Manaus ou seja, muito mais próximo à concentração de focos de incêndio, registraram maiores índices. De forma que não se pode atribuir a esse pico de fumaça de Manaus ao Estado do Pará, e sim aos focos na região da rodovia BR 319, né, nos municípios de Careiro e Autazes”, conclui Lucas.
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Foto de capa: Artur Gomes