A área de garimpo de ouro na Amazônia cresceu mais de 90% em oito anos, segundo o estudo elaborado pelo Instituto Escolhas. O levantamento mostra que a área passou de 79,2 mil hectares, em 2013, para 151,7 mil hectares em 2021.As informações estão no relatório Abrindo o livro caixa do garimpo, divulgado no último dia 16 de junho.

Leia o relatório aqui.

De acordo com o documento, o investimento para iniciar uma operação de garimpo de balsa na região amazônica ultrapassa 3 milhões de reais. Nos garimpos de baixão, o investimento inicial gira em torno de 1,3 milhão de reais. Números que provam o quanto a atividade garimpeira de hoje está muito distante da sua origem artesanal.

O estudo levantou números referentes a dois tipos de operação: o garimpo de balsa, que acontece nos rios, e o garimpo de baixão, que ocorre em terra, em áreas próximas ao leito dos rios. Para chegar aos valores médios de uma operação típica de balsa, foi considerada uma balsa grande, com 18 garimpeiros e duas cozinheiras. Nas operações de baixão, foram incluídos no cálculo o operador da retroescavadeira e as horas das máquinas (retroescavadeira e bombas hidráulicas para derrubar os barrancos e bombear os sedimentos).

De acordo com a pesquisa, um garimpo de balsa fatura R$ 1,16 milhão por mês. E, feitos os pagamentos, fica com um lucro de R$ 632 mil. No caso do garimpo de baixão, o faturamento mensal médio é de R$ 930 mil, enquanto o lucro fica em torno dos R$ 343 mil mensais. Os gastos contabilizados pelos pesquisadores do estudo incluem a alimentação da equipe, despesas com combustível, internet e mercúrio, remuneração dos garimpeiros e das cozinheiras e, por fim, depreciação dos equipamentos.

“Os garimpos são empreendimentos com alto investimento e uma renda considerável, mas beneficiados por uma legislação que faz poucas exigências para autorizar as operações e que não atrela ao garimpo a responsabilidade de recuperar as áreas devastadas e contaminadas pelo mercúrio. Aí, reside o interesse em seguir mantendo a aura artesanal do garimpo, que já não é realidade há muito tempo”, alerta Larissa Rodrigues, gerente de portfólio do Escolhas.

Outro destaque do estudo é a transformação provocada pelo uso de retroescavadeiras, que se tornou presença garantida nos garimpos de baixão de 2012 até os dias de hoje. “Antes, eram necessários 30 dias de trabalho para derrubar a floresta e abrir uma área de garimpo. Hoje, as retroescavadeiras fazem isso em uma semana”, afirma Rodrigues.

O levantamento mostra ainda que a dimensão econômica da atividade atesta a capacidade financeira dos donos de garimpo de arcar com exigências legais que inúmeras vezes não são cumpridas, como a recuperação ambiental das áreas.

Além de fazer um diagnóstico da atuação dos garimpos na região, o relatório elenca medidas urgentes que precisam ser tomadas para conter o avanço da mineração ilegal na Amazônia, entre elas: criar um teto para a produção mineral em garimpos e, a partir dele, estabelecer a migração obrigatória para o regime de concessão de lavra; exigir dos garimpos trabalhos de pesquisa mineral, com planos de aproveitamento econômico, para estimar os volumes de minério disponíveis na área e a extração ao longo do tempo; limitar o número de permissões de garimpo a apenas uma por pessoa ou cooperativa, sempre respeitando a área-limite definida em lei e exigir prova de capacidade financeira dos titulares de permissões de garimpos, para garantir que possam cumprir com as responsabilidades ambientais e sociais.

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Com informações do Instituto Escolhas