Vencedora da menção honrosa no prêmio Vladimir Herzog pela reportagem ‘Os defensores não defendidos’, publicada no portal Sumaúma, Catarina Barbosa fala sobre a premiação, jornalismo e Amazônia
Por Cecilia Amorim
Na noite do dia 24 de outubro na cidade de São Paulo aconteceu a entrega do 35º prêmio Vladimir Herzog. O prêmio é concedido a jornalistas com produções dedicadas à defesa da democracia, Direitos Humanos, cidadania e justiça social. Este ano foram mais de 600 trabalhos inscritos. Entre eles, muitos profissionais de renomes que atuam em grandes veículos. A reportagem “Os defensores não defendidos”, da jornalista paraense Catarina Barbosa e de Talita Bedinelli, publicada no site Sumaúma, ganhou menção honrosa na categoria texto. A matéria das duas jornalistas fala sobre a insegurança diária vivida por ativistas amazônicos que defendem a floresta em pé indo de encontro com os interesses de grileiros, madeireiros e demais categorias que vem há muito tempo mudando a paisagem do território e ameaçando o ecossistema e populações que habitam nela.
Em seu discurso, durante a premiação, Catarina disse: “Diariamente são mortos ou atacados na Amazônia brasileira por lutar pela reforma agrária contra pessoas e corporações poderosas que desmatam, poluem, contaminam. Pessoas que lutam contra seus próprios corpos para manter em pé a floresta essencial para a vida de todes nesse planeta”. Ela falou ainda que esta proteção é um trabalho que deveria ser feito pelos governos, porém esses têm negligenciado a proteção da floresta e das pessoas que usam sua voz e corpos na defesa do território.
Catarina Barbosa é filha de ribeirinhos marajoaras e trás em seus trabalhos as questões amazônicas como prioridade. Nascida em uma ilha às margens do Rio Acará, recebeu esse nome em homenagem a uma tia que faleceu ainda na infância. Nome forte para uma mulher com um trabalho tão desafiante. Ela conta que ficou muito emocionada na entrega do prêmio e sentia que não estava só no palco. Além da companheira de pauta, Talita Bedinelli, Catarina sentia a presença dessas mulheres ancestrais que não tiveram a oportunidade de viver tudo que hoje ela pode viver, mas que contribuíram para formação da sua identidade.
O Carta Amazônia conversou com a jornalista sobre o prêmio, jornalismo e Amazônia.
O que esse prêmio representa para você enquanto jornalista amazônida?
Sempre fiz e faço jornalismo com a percepção de que estou a serviço das pessoas que têm seus direitos violados. Os prêmios são importantes, claro, mas para mim, o mais importante é que algo seja feito por esses defensores, enquanto eles ainda estão vivos. Esse é o propósito maior dessa reportagem. O prêmio só veio reforçar o que eu já sabia antes de ganhá-lo: que vou continuar investigando e escrevendo sobre violações de direitos humanos.
Como você vê esse interesse do mundo pela Amazônia? Acreditas que pode representar alguma mudança real nas vidas e lutas dos defensores, ativistas e povos tradicionais?
O interesse do mundo pela Amazônia não se resume à emergência climática. Ele também é motivado por interesses financeiros. É comum vermos o capital se deslocando para onde há oportunidades de lucro, e a Amazônia está sendo cada vez mais monetizada. Um exemplo disso é o mercado de carbono, que é uma forma de compensar as emissões de gases de efeito estufa.
Acredito que a mudança é possível, mas ela só será eficaz se for feita em conjunto com os amazônidas. As pessoas que vivem na floresta precisam fazer parte do processo, contribuindo com seus conhecimentos e experiências. Afinal, são elas que são responsáveis por preservar a Amazônia. Se não for feito dessa forma, estaremos apenas reproduzindo um outro tipo de colonização, em que os interesses externos são impostos aos amazônidas.
Se tu pudesse falar algo para os novos Jornalista que estão entrando nas redações agora, nesse território tão complexo e que querem falar sobre jornalismo socioambiental, o que falaria?
Confie nas suas intuições. O jornalismo é uma profissão que exige sensibilidade e capacidade de observação. Não tenha medo de seguir seus instintos, mesmo que eles pareçam ir contra a opinião popular. Considere o jornalismo independente. O mercado local pode ser desafiador, mas o jornalismo independente está crescendo cada vez mais. Essa é uma ótima opção para jornalistas que querem cobrir temas ambientais de forma independente e crítica.
Cuide da sua saúde mental. O jornalismo é uma profissão estressante. É importante saber a hora de parar de trabalhar, de entregar um texto e, até mesmo, de desistir de uma pauta. Tudo aquilo que você pensou, pode sim estar errado. E não esqueça: cuide de si mesmo para que você possa continuar fazendo um bom trabalho. O jornalismo ambiental requer muita leitura, pesquisa, curiosidade e capacidade de se indignar com atrocidades. Estude o tema, converse com especialistas e não tenha medo de denunciar o que é errado.
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Foto 1: Alice Vergueiro