OPINIÃO

Por Adison Ferreira

Cobrir tragédia, não importa o tipo, o lugar, nem a dimensão, sempre é uma das missões mais árduas do jornalismo. Vivi isso de perto quando trabalhei como repórter na editoria de Polícia de um jornal em Belém do Pará. Chacinas, acidentes fatais, incêndios, lágrimas, famílias inteiras destruídas, a dor humana escancarada da maneira mais visceral possível. Tudo isso atravesa o cotidiano hard news desse ofício.

Mas, se por um lado esses episódios te desmontam ao mostrar e acompanhar de perto o lado mais cruel dos traumas, dores e vidas aniquiladas. Por outro, eles também te ajudam (ou pelo menos, deveriam ajudar) a jamais perder a empatia e, sobretudo, a sensibilidade humana ao contar a história dos outros.

Técnica e objetividade não são e nem podem ser, em nenhuma hipótese, sinônimos de frieza. Por mais que, infelizmente, existam muitos colegas que perdem a mão e coloquem a audiência do veículo e a indiferença disfarçada de imparcialidade em primeiro lugar, desrespeitando a dor do outro. Isso não é e jamais deve ser a regra.

A pirotecnia do sensacionalismo policialesco não é jornalismo. Pelo contrário. Entre as principais funções sociais do jornalismo estão a defesa da democracia e o respeito aos Direitos Humanos, pautas totalmente opostas ao que é produzido pelos programas policialescos, orquestrados por apresentadores que assumem os papeis de algoz e juiz ao mesmo tempo.

O resgate da empatia no campo jornalístico é urgente, principalmente nesse tempo dominado por fakenews, Clickbait e máquinas de ódio dentro e fora da internet. Se desarmar do mito da neutralidade e se armar de esperança e humanidade para contar a história dos outros é um exercício diário e pode ser o primeiro passo para esse resgate. Afinal, se tem uma coisa que aprendi ao longo de quase 15 anos anos nessa profissão é que não existe jornalista de verdade sem sensibilidade e empatia. E nos casos da ausência dessas características, o melhor a fazer é abandonar o ofício.

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Foto: Felipe Floresti/ Superinteressante