O pastor e ex-deputado federal Josué Bengtson, tio da senadora Damares Alves (Republicanos – DF), usou documentos fraudulentos para declarar posse em terras públicas no Pará, segundo o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA).
A informação foi revelada nesta semana por uma reportagem dos jornalistas Carolina Bataier e Eduardo Carlini para o projeto De Olho nos Ruralistas. Segundo a apuração, Bengtson cria gado em 6,8 mil hectares de terras que são, por lei, da União.
Desse total, 4.932,39 hectares, ou 72% da propriedade, estão em área pertencente à gleba federal Pau de Remo, destinada desde 2015 à reforma agrária. Uma parcela desse território teve um título de posse emitido pelo Instituto de Terras do Pará (Iterpa). A reportagem do De Olho nos Ruralistas constatou que esse documento tem origem fraudulenta. A fazenda também é vizinha à Terra Indígena Alto Rio Guamá, do povo Tembé, que sofre com a invasão de madeireiros a partir da Pau de Remo e de outra gleba vizinha, a Cidapar.
Josué Bengtson voltou ao noticiário no fim de maio, quando a Polícia Federal apreendeu 290 quilos de skunk, um tipo mais forte de maconha, em um avião pertencente à Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), fundada e liderada pelo tio de Damares. A apreensão ocorreu no dia 27, no Aeroporto Internacional de Belém. Damares foi destaque na última terça-feira (11/07) em reportagem do Estadão, que aponta a participação da ex-ministra no desvio de R$ 2,5 milhões em verbas públicas que seriam destinadas a duas ONGs. O valor foi parar em empresas de fachada ligadas ao ex-deputado evangélico Professor Joziel (Patriotas-RJ), um aliado político de Damares.
Padrinho político
Bengtson é parente e padrinho político da senadora, que foi ministra da Família durante a gestão de Jair Bolsonaro. Foi ele que conferiu o título de pastora da Quadrangular a Damares nos anos 1980. Na década seguinte, Damares trabalhou no gabinete do pastor, então filiado ao PTB do Pará.
Familia afirma que não tinha conhecimento da fraude
Em resposta ao projeto De Olho nos Ruralistas, Marcos Bengtson, filho de Josué Bengtson, informou que, ao adquirir as terras, a família não tinha conhecimento de se tratar de uma área federal. “Acreditamos que nem o próprio Iterpa tinha essa informação, seja por falta de recursos tecnológicos na época, ou pela cartografia muito precária existente”, justifica, em texto enviado por e-mail.
Com relação ao título provisório, ele alega ser proveniente de erro do Iterpa, que teria reconhecido o equívoco em meados de 2014. Entretanto, a análise do Incra que aponta a fraude é posterior a essa data. Confira aqui a íntegra da resposta de Marcos.
O imóvel da família Bengtson é utilizado para criação extensiva de gado. Segundo dados obtidos pela plataforma Mapbiomas, referentes a 2021, 62% da área da Fazenda Cambará encontra-se desmatada.
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Com informações do projeto De Olho nos Ruralistas
Foto: João Ricardo /PTB na Câmara