Segundo pesquisa, os biomas Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica devem ser os mais afetados pelo aquecimento global
O aumento das mudanças climáticas causadas pela concentração crescente de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera terrestre pode ter efeitos devastadores para a diversidade biológica no Brasil. Um estudo publicado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nesta semana mostrou que até 90% das espécies brasileiras podem ser impactadas negativamente, com cerca de um quarto delas enfrentando o risco potencial de extinção caso o aquecimento do planeta não seja limitado.
O estudo, publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation, mostra que o Pantanal deve ser o bioma mais severamente atingido, seguido pela Amazônia e pela Mata Atlântica. Segundo os autores, as espécies consideradas ameaçadas são aquelas que podem perder ao menos 80% de sua distribuição geográfica nas próximas décadas.
Apesar do cenário preocupante, o estudo aponta que o cumprimento das metas estabelecidas no Acordo de Paris — que limita o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais — poderia reduzir pela metade o número de espécies ameaçadas. A análise destaca, ainda, lacunas significativas no conhecimento científico sobre os impactos das mudanças climáticas, especialmente em ambientes marinhos e nos biomas Pampa e Pantanal, que possuem poucos estudos.
Outro ponto crítico apontado é a concentração de dados em plantas e vertebrados terrestres, como aves, mamíferos e anfíbios, que representam cerca de 90% das projeções. Insetos, fungos, organismos aquáticos e espécies marinhas seguem subrepresentados, o que limita o entendimento completo sobre os efeitos das mudanças climáticas sobre ecossistemas essenciais.
De acordo com Artur Malecha, autor principal do estudo, medidas como a expansão estratégica das unidades de conservação, o combate ao desmatamento e à poluição, e o fortalecimento de ações de restauração ambiental são fundamentais para aumentar a resiliência da biodiversidade brasileira.
A professora Mariana Vale, coautora da pesquisa, ressalta que além de conter o desmatamento, é essencial enfrentar a principal causa das mudanças climáticas: a queima de combustíveis fósseis. “Abrir novos poços de petróleo na foz do Amazonas é um contrassenso. Essa decisão ameaça ecossistemas sensíveis, como os recifes de corais da região, e contraria os compromissos climáticos assumidos pelo Brasil”, afirmou.
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Reportagem publicada originalmente no site O Vocativo.
Foto de capa: Araquém Alcântara / WWF-Brazil