Pesquisa mostra que o aquecimento global dobrou os dias perigosos para a gravidez em 90% dos países. Das 10 cidades brasileiras com maior risco térmico para a gravidez, cinco estão na Amazônia Legal

O calor extremo, impulsionado pelas mudanças climáticas, representa uma ameaça crescente à saúde materna e aos desfechos da gravidez em todo o mundo, incluindo o Brasil. De acordo com um estudo da Climate Central, nos últimos cinco anos, o aquecimento global dobrou o número médio anual de dias perigosamente quentes para grávidas em quase 90% dos países e territórios, e em 63% das cidades, em comparação com um mundo sem mudança climática.

O Brasil registrou uma média de 27 dias adicionais por ano com risco térmico elevado para gestantes, como consequência direta das mudanças no clima causadas pelas atividades humanas. A cidade de São Luís, no Maranhão, lidera esse ranking: foram, em média, 49 dias por ano com temperaturas acima do considerado seguro para a gestação. Das 10 cidades brasileiras com maior risco térmico para a gravidez, cinco estão na Amazônia: Porto Velho (RO), Boa Vista (RR), Manaus (AM), Macapá (AP) e Belém (PA).

Confira aqui o estudo completo

A Climate Central analisou as temperaturas diárias de 2020 a 2024 em 247 países e territórios e 940 cidades para medir o aumento dos chamados dias de risco térmico gestacional — dias em que as temperaturas máximas ultrapassam 95% das temperaturas locais históricas, um limiar associado ao aumento do risco de parto prematuro. O parto prematuro pode gerar efeitos duradouros sobre a saúde do bebê e aumentar o risco de complicações na saúde materna após o nascimento.

Esta é a primeira análise que quantifica diretamente como a mudança climática está aumentando os dias perigosamente quentes e influenciando as gestações.

As principais conclusões do estuudo incluem:

  • Todos os países analisados apresentaram aumento nos dias de risco térmico gestacional devido à mudança climática, causada principalmente pela queima de combustíveis fósseis como carvão, petróleo e gás.
  • Na maioria dos países e territórios (222 dos 247), a mudança climática pelo menos dobrou o número anual de dias de risco térmico gestacional nos últimos cinco anos, em todos os continentes, em comparação com um mundo sem mudança climática.
  • Em quase um terço dos países e territórios (78 de 247), a mudança climática acrescentou, a cada ano, o equivalente a um mês adicional de dias perigosos para a gestação, entre 2020 e 2024.
  • Em alguns países e cidades, todos os dias de risco térmico gestacional registrados nos últimos cinco anos foram causados pela mudança climática. Em outras palavras, em um mundo sem mudança climática, esses locais não teriam experimentado temperaturas iguais ou superiores ao percentil 95º de temperatura durante esse período.
  • A mudança climática adicionou o maior número de dias de risco térmico gestacional em países em desenvolvimento, frequentemente com acesso limitado a serviços de saúde, incluindo Caribe, América Central e do Sul, Ilhas do Pacífico, Sudeste Asiático e África Subsaariana. Essas regiões estão entre as mais vulneráveis aos impactos da mudança climática, apesar de contribuírem minimamente para as emissões de gases de efeito estufa.

calor extremo é um dos riscos climáticos mais perigosos para a saúde materna e infantil. Pesquisas ligam as altas temperaturas durante a gravidez ao aumento dos riscos de complicações como hipertensão, diabetes gestacional, hospitalização, morbidade materna grave, natimortos e partos prematuros, que podem acarretar impactos para toda a vida das crianças. Os países mais afetados são, ironicamente, os que menos contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa.

“O calor extremo é hoje uma das ameaças mais urgentes para pessoas grávidas em todo o mundo, colocando mais gestações em situação de alto risco — especialmente em locais que já enfrentam dificuldades no acesso à saúde. Reduzir as emissões de combustíveis fósseis não é apenas benéfico para o planeta — é uma medida crucial para proteger pessoas grávidas e recém-nascidos ao redor do mundo”, destaca o Dr. Bruce Bekkar, médico especializado em saúde da mulher e autoridade sobre os perigos da mudança climática para a saúde humana.

“Mesmo um único dia de calor extremo pode aumentar o risco de complicações graves na gravidez. A mudança climática está intensificando o calor extremo e dificultando ainda mais a chance de gestações saudáveis em todo o mundo, principalmente onde o acesso ao atendimento já é limitado. Os impactos sobre a saúde materna e infantil tendem a piorar se não pararmos de queimar combustíveis fósseis e não enfrentarmos urgentemente a mudança climática”, afirma a Dra. Kristina Dahl, vice-presidente de Ciência na Climate Central.

A crise climática tem como principal causa a queima desenfreada de gás, carvão e petróleo desde a Revolução Industrial. A emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera, sendo o dióxido de carbono e o metano os mais problemáticos, tem há várias décadas poluído a atmosfera e contribuído para o aumento das temperaturas médias globais. 

A subida dos termômetros na Terra contribui, por sua vez, para o aumento da frequência e da intensidade de fenómenos climáticos extremos como ondas de calor, tempestades violentas, inundações repentinas e incêndios florestais. Estas situações têm impactos não só na saúde física da gestante e do bebé, mas também na saúde mental da mãe.

A Climate Central é uma organização independente, sem fins lucrativos, constituída por cientistas e comunicadores que se dedicam a investigar e comunicar os factos sobre as mudanças climáticas e os impactos na vida das populações, segundo a página oficial da entidade. Segundo a entidade, esta é a primeira análise que calcula directamente a forma como a crise do clima está a aumentar os dias perigosamente quentes para as grávidas.

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Foto: Divulgação/ Sespa

Com informações da Climate Central