Painel da Semana do Clima da Amazônia reuniu representantes da Petrobras, setor privado, pesquisadores e lideranças comunitárias

Durante o painel “Margem Equatorial: impactos e oportunidades”, na Semana do Clima da Amazônia, na última terça-feira (15), em Belém (PA), André Guimarães, diretor executivo do IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, criticou a polarização do debate em torno da exploração de petróleo na foz da Amazônia; a falta de discussão sobre fontes alternativas limpas, como os biocombustíveis; e defendeu o caminho do diálogo para promover a inclusão, não só o aspecto político, mas o conhecimento científico e das comunidades afetadas.

“Nós somos uma sociedade que conversa. Essa questão dos combustíveis fósseis precisa de diálogo. E a gente não está, no meu entender, discutindo essa questão de uma forma consequente do que deveria ser essa conversa”, afirmou.

Em abril deste ano, durante o evento “COP 30: momento decisivo para o enfrentamento da crise climática global”, promovido pelos jornais “O Globo” e “Valor Econômico” e pela rádio CBN, também na capital paraense, Guimarães já havia criticado a polarização no debate sobre petróleo. Para ele, o assunto precisa ser visto como oportunidade para trocar os combustíveis fósseis por biocombustíveis.

“Essa discussão está no lugar errado. Estamos fazendo um Fla-Flu, é sim ou não ao petróleo. Qual o melhor investimento para o Brasil: é furar petróleo na Margem Equatorial da Amazônia ou investir em biocombustíveis?”, questionou.

O diretor executivo do IPAM falou ainda sobre os impactos da emergência climática para o agronegócio. “Historicamente, temos uma distribuição correta de chuva. Chove quando tem que germinar o grão, e para de chover quando tem que colher. Mas a atual desorganização do ciclo natural de chuvas, consequência do desmatamento, coloca a segurança alimentar do planeta em risco. Nesse cenário, a floresta, a vegetação nativa, passa a ser um fator de produção, e não um obstáculo a ser vencido para fazer agricultura.”

Segundo Guimarães, metade das emissões de gases do efeito estufa do Brasil decorrem do desmatamento. “Em torno de 90% é ilegal. Se a gente combater o crime, se a gente parar de desmatar ilegalmente, a gente resolve quase metade do problema das emissões brasileiras”, explicou.

A Semana do Clima é uma iniciativa colaborativa de organizações da sociedade civil e do setor privado (Foto: Pedro Guerreiro /Ag. Pará)

O painel “Margem Equatorial: impactos e oportunidades” reuniu representantes da Petrobras, setor privado, pesquisadores e lideranças comunitárias da Amazônia. Para Roberto Kishinami, especialista sênior do iCS (Instituto Clima e Sociedade), a emergência climática impõe como prioridade reduzir as emissões de gases poluentes na atmosfera. “Crise climática não se pode se desligar por uma chavinha. Somos uma sociedade viciada em petróleo. Como resolver? Não é se escondendo debaixo do cobertor. É preciso agir”, defendeu.

Daniele Lomba, gerente geral de licenciamento e meio ambiente da Petrobras, defendeu um cenário de baixo de economia de baixo carbono, mas com petróleo, já que a demanda de energia é crescente e precisará ser suprida. “Se a gente não produzir no Brasil, vai ter que exportar. A gente vai exportar emprego, renda, tributos para outros países. Isso é vantajoso? Acho que não”, sustentou.

Alex Carvalho, presidente da Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará), classifica o “debate raso”, mas avalia que é preciso considerar a perspectiva de, com compromissos para mitigar os impactos, do desenvolvimento da região. “É uma oportunidade de se libertar das desigualdades regionais. Internalizar as riquezas e trazer o conhecimento técnico, geração de emprego, desenvolvimento de fato. Transformar a nossa gente”, afirmou

Sandra Regina, liderança comunitária amazônica e gestora do Maretório – Confrem/PA (Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros Marinhos) diz que acompanha a discussão desde 2012 e que as decisões precisam ser debatidas com quem realmente pode ser impactado.

Semana do Clima

A Semana do Clima da Amazônia é uma iniciativa colaborativa de organizações da sociedade civil e do setor privado, que nasce com o objetivo de construir soluções concretas para os desafios ambientais, sociais e culturais da região amazônica.

Em 2025, o Brasil será sede da COP30, assumindo um papel central no debate climático global. Como parte desse movimento, a Semana do Clima começa em Belém (PA) e se propõe a ser um evento itinerante, com edições anuais em diferentes territórios da Amazônia Legal. A proposta é fortalecer a região como um ator estratégico nas discussões sobre o futuro do planeta.

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Com informações da comunicação do IPAM

Foto de capa: Lucas Guaraldo/IPAM