Segundo levantamento da coalizão de ONGs Kick Big Polluters, o lobby dos combustíveis fósseis na Conferência do Clima, em Baku, é maior que delegações de países mais afetados pelas mudanças climáticas

Por Lu Sudré

Existem mais lobistas da indústria fóssil credenciados na 29ª Conferência do Clima da ONU, em Baku, no Azerbaijão, do que representantes dos dez países mais afetados pelos eventos climáticos extremos.

Os dados são de levantamento divulgado pela coalizão de ONGs Kick Big Polluters Out (Expulse os Grandes Poluidores, na tradução em inglês) e revelam o alto investimento do setor para interferir nas negociações climáticas.

São, ao menos, 1.773 representantes dos combustíveis fósseis participando do evento. Se fossem uma delegação, seria a 4ª maior, ficando atrás somente do país anfitrião, com 2.229 representantes; do Brasil, país-sede da COP30 que está em Baku com 1.914 delegados; e da Turquia, com 1.862 pessoas credenciadas.

Apesar do número total ser menor em comparação a Dubai, onde aconteceu a COP28 e foi registrada a presença de 2.456 lobistas, houve um aumento proporcional considerando o total de pessoas credenciadas este ano.

De acordo com a KPBO, a International Emissions Trading Association lidera o ranking e registrou 43 delegados, incluindo representantes da francesa Total Energies e da suíça Glencore. Já grandes petroleiras como Shell, ExxonMobil, BP, Chevron e Eni credenciaram, juntas, 39 lobistas.

A interferência do setor é tanta que países como Japão, Itália, Reino Unido e Canadá credenciaram lobistas de megapoluidoras em suas delegações oficiais.

 “O domínio dos lobistas de combustíveis fósseis nas negociações climáticas é como uma cobra venenosa se enroscando no futuro do nosso planeta”, destaca Nnimmo Bassey, membro da coalizão KBPO.

“Precisamos expor suas fraudes e tomar medidas decisivas para remover sua influência e fazê-los pagar por suas infrações contra o planeta. É hora de priorizar as vozes daqueles que lutam por justiça e sustentabilidade, não os interesses dos poluidores”, defende.

Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil, também critica a presença dos lobistas na conferência.

“Querem atrapalhar para que não avancemos no ritmo necessário para evitar eventos climáticos ainda mais extremos e frequentes, assim como o prejuízo decorrente deles”, afirma.

Protesto da sociedade civil por justiça climática na COP29 (Foto: UN Climate Change – Kiara Worth)

Além de metas mais ambiciosas para que o aumento da temperatura do planeta não ultrapasse 1,5ºC, conforme estipulado pelo Acordo de Paris, o Greenpeace está na COP29 defendendo um financiamento climático justo e robusto.

“A gente espera que, de uma vez por todas, os grandes poluidores comecem a pagar a conta da crise climática. Esse é o desafio que temos colocado nessa COP e que seguiremos tendo ano que vem do Brasil. Esse movimento precisa avançar, se não, não teremos dinheiro suficiente para lidar com os danos causados pelos grandes poluidores. Quem paga a conta, no final, somos nós”, complementa Pasquali.

_________________________________ 

Conteúdo publicado orginalmente no site do Greenpeace Brasil

Foto de capa:  UN/COP29Az