Na tarde desta quinta-feira (26), milhares de pessoas lotaram as ruas do centro histórico de Bragança, no nordeste paraense, para homenagear São Benedito. A Festividade, que ocorre há 226 anos, reuniu uma multidão marujos e marujos, que vestidos com o tradicional vermelho e branco, caminharam por mais de três horas levando a imagem do santo preto em um andor.

O principal dia da Festividade começou com uma missa na igreja de São Benedito, às 7 horas. Em seguida, os marujos seguiram para o Museu da Marujada, onde ocorreram apresentações das danças tradicionais do ritual durante toda a manhã. 

Ao longo da procissão, que teve início às 16 horas, várias homenagens mostravam a devoção dos bragantinos pelo copadroeiro da cidade. Durante o trajeto, marujos de diferentes gerações comprovavam a força da tradição bicentenária.

A aposentada Tereza Rosário, que participa da festa há 40 anos, afirma que nem pensa em abandonar a manifestação. “Eu participo da Marujada desde a infância, praticamente. A minha devoção por São Benedito já rendeu muitas graças e por isso eu não posso abandonar o ritual. Por isso que eu falo. Eu vou ser maruja até o último dia da minha vida”, garante a servidora pública.

Cortejo com o santo pelas ruas da cidade durou mais de três horas (Foto: Lucas & Dani/ Prefeitura de Bragança)

A mesma paixão pelo ritual é nítida na família da dona de casa Rafaela Nascimento, onde quatro gerações participam da Marujada. “A minha mãe herdou a tradição da minha avó, eu herdei essa paixão da minha mãe agora eu estou passando esse amor da Marujada para o meu filho, que com apenas quatro anos já participa da procissão de São Benedito, vestido como marujo, pela quinta vez”, conta Rafaela, que carrega o pequeno marujo no colo durante toda a procissão.

O cortejo encerrou na orla do município, com uma missa campal. Logo após a celebração, os marujos seguiram novamente para o Museu da Marujada, onde a festa de louvor e devoção ao santo, embalado pelas principais danças do ritual, seguiu por toda a noite.

Patrimônio Cultural do Brasil

Em 2024 a manifestação bicentenária foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O título, oficializado em setembro deste ano, foi aprovado por unanimidade pela autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC).

Marujada celebrou sua 226ª edição com procissões e homenagens ao santo preto (Foto: Marcelo Lélis/ Ag. Pará)

A festa

Os ritmos que embalam a dança da marujada possuem duas origens. A europeia, caracterizada pela presença de viola e rabeca, uma espécie antiga de violino com som rústico. E a africana, marcada pela forte presença de tambores. A roda, dança de origem portuguesa, é uma exclusividade das mulheres, somente elas possuem a permissão para abrir e fechar o ritual de apresentações. Os movimentos graciosos das marujas em torno de um círculo, balançando as longas saias e girando em torno de si, marcam o compasso desta dança.

Outra herança africana na marujada é dançar com os pés descalços. A mistura de danças e louvor classifica o ritual como uma cultura do catolicismo popular.

No ritual da Marujada há dois tipos de marujos. Os marujos do quadro, aqueles membros da irmandade que pagam donativos para a entidade. Eles possuem obrigações como reuniões e apresentações de danças no decorrer do ano. E há os marujos de promessa, pessoas que só se vestem a caráter no dia em homenagem a São Benedito, 26 de dezembro.

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Foto de capa: Alexandre Baena